Todas as pessoas têm os seus pontos fracos, as suas vulnerabilidades, ou, como prefiro chamar-lhes, as suas feridas emocionais. Trata-se de áreas da vida, normalmente relacionadas com episódios do passado, que, quando são atingidas, mesmo que involuntariamente, geram muita dor. Conhecer a pessoa que se ama é, também, conhecer estas feridas e aprender a lidar com elas.
Para isso, é preciso aceitar que alguns gestos ou comentários aparentemente inócuos podem levar a que o outro se sinta ferozmente atingido. Assim, quando nos deparamos com uma reacção brusca e repentina ou com um amuo súbito, é provável que tenhamos tocado, mesmo sem querer, numa dessas feridas. Estas reacções não são mais do que os efeitos secundários da tentativa de mascarar a fragilidade, a tristeza e o medo.
Imagine-se um homem adulto que, perante um comentário da mulher, que lhe sugere que mantenham relações sexuais com mais frequência, em vez de reagir positivamente, responde num tom agressivo “Lá vem ela…”, começando a gritar. Por que terá reagido assim? A verdade é que o comentário da mulher funciona como um míssil que desfaz completamente a sua auto-estima. Porquê? Em primeiro lugar, porque antes de estar casado teve uma namorada que estava sempre a dizer que ele não a satisfazia na cama, acabando por traí-lo. Este é um dos seus pontos fracos, mas a sua masculinidade tem feridas ainda mais antigas: enquanto criança, por ser muito franzino, ouvia constantemente o pai dizer em tom de brincadeira “És o João ou a Joana?”. Sempre sentiu que não era suficientemente másculo para nenhuma mulher, daí que um comentário aparentemente inócuo pudesse causar tanta ira.
Mas como é que a mulher poderia saber de tudo isto? Talvez não seja exequível conhecermos todas as feridas do nosso cônjuge, mas é possível identificar os sinais de que estamos perante um desses pontos fracos.
- O primeiro sinal consiste numa mudança radical no tom da conversa. De um momento para o outro, o cônjuge mostra-se profundamente ofendido ou, pelo contrário, isola-se gelidamente, fechando-se sobre si mesmo.
- O segundo sinal é uma reacção completamente desproporcionada ao suposto “ataque”.
Qualquer uma destas respostas impede que o outro veja a tristeza. Pelo contrário, cresce a probabilidade de ambos se enervarem, contribuindo para a escalada de agressividade. É preciso desconstruir estes ciclos viciosos para tentar perceber o que correu mal.
Quando uma ferida emocional é “arranhada” por um gesto aparentemente inofensivo do cônjuge, a pessoa sente-se ameaçada, com medo, como se um interruptor a fizesse passar de um estado de tranquilidade à hiper-vigilância. Por exemplo, uma mulher pode reagir bruscamente depois de o marido ter apenas dito “Ouve com atenção…”. Porquê? Porque, para ela, aquele tom implica recordar-se de como era tratada por um ex-companheiro – tratava-a como uma criança (“Como uma tonta”).
Como tudo acontece em milésimos de segundo, pode ser muito difícil gerir estes episódios – passa-se de um momento de ternura para a sensação de dor e desta para a ira ou para o isolamento. Pode ser preciso olhar para trás, para a história pessoal de cada um, para perceber o que realmente está por detrás destes problemas de comunicação.