Já aqui escrevi sobre bullying em geral e sobre cyberbullying em particular. Hoje escrevo sobre esta forma de violência sobre um grupo específico: os jovens homossexuais. Como se sabe, o bullying não é mais do que o exercício de violência – física ou psicológica – sobre aqueles que aparentemente se destacam pela sua fragilidade, aqueles que, por qualquer motivo, estão mais vulneráveis. Tratando-se a orientação sexual ainda um assunto tabu, mesmo nas sociedades ditas modernas e urbanas, ser homossexual resulta muitas vezes numa boa dose de sofrimento individual e, nalguns casos, em tentativas de negação/ camuflagem.
Quase todos os homossexuais são vítimas de alguma forma de preconceito e a adolescência é porventura o período em que a violência emocional pode ter um impacto mais alarmante. Se é verdade que muitas crianças e jovens são vítimas de violência através da disseminação de rumores, mentiras e sarcasmo através da Internet, este problema atinge um em cada dois jovens homossexuais. São ostracizados através do e-mail, do Messenger, das redes sociais ou até através de SMS.
Esta é uma situação grave, que pode comprometer seriamente o bem-estar das vítimas, levando-as a manifestar sintomas depressivos e, nalguns casos, à ideação suicida. Infelizmente, em Portugal foi preciso morrer uma criança para que se ouvisse falar de bullying na televisão. Infelizmente, são quase sempre precisas tragédias para que os temas que envolvem qualquer exercício de preconceito sejam discutidos.
Como não são apenas os socos e os pontapés que deixam marcas, importa que se olhe para esta realidade e se demonstre verdadeira vontade de educar as nossas crianças no sentido do respeito pelo outro. Qualquer adolescente que seja sistematicamente ostracizado corre o sério risco de ficar com feridas emocionais para o resto da vida.
Como se sentiria um adulto se visse fotomontagens humilhantes com o seu rosto a circular pela Internet? Ou se um conjunto de informações falsas e/ou do foro privado passassem de mão em mão (ou, neste caso, de ecrã em ecrã)? Imaginemos então alguém cuja personalidade está ainda em formação.
Estas são vítimas que muitas vezes “escolhem” manter-se em silêncio, o que agrava o problema. Não contam nada aos pais porque têm medo que estes não acreditem, ou porque acham que não há nada que os adultos possam fazer para solucionar o problema. Pior do que tudo isto: temem que a assunção do problema faça escalar as humilhações. O isolamento, a sensação de que ninguém os compreende e o medo são aliados perigosos, que destroem progressivamente a auto-estima destes jovens.
Não é certamente dizendo-lhes para “passar menos tempo na Internet”, ou limitando o uso da “tecnologia de consumo” que se resolve o problema. Resolvê-lo-emos através do diálogo, da discussão, do debate. Não é a isso que chamamos Educação?