Falar-se sobre sexualidade continua a ser um tabu. Em sede de terapia deparo-me frequentemente com o embaraço dos casais quando o tema é abordado. E, mesmo que haja dificuldades enraizadas que requeiram a intervenção especializada, nem sempre é fácil dar o primeiro passo e assumir o problema. Como terapeuta conjugal, estou familiarizada com estes constrangimentos e compete-me criar um ambiente tão acolhedor quanto possível para que estas questões sejam analisadas sem constrangimentos, respeitando que cada pessoa tem o seu ritmo e os seus limites.
Infelizmente, nem todos os profissionais de saúde têm formação específica nesta área nem competências que lhes permitam introduzir o tema prevenindo situações eventualmente complicadas. Como alguns leitores saberão, o tratamento do cancro da próstata pode afectar a actividade sexual dos doentes, pelo que, felizmente nestes casos, há algum investimento no sentido de partilhar informação relevante. Infelizmente, existem outras intervenções cirúrgicas que podem comprometer a actividade sexual e que carecem de informação associada. Por exemplo, uma grande percentagem das mulheres que se submetem a cirurgias do foro ginecológico, como a esterilização, mostram-se preocupadas com a possibilidade de terem menos desejo sexual depois da operação, apesar de esta cirurgia não implicar alterações dos níveis hormonais. Ora, estas informações deveriam ser dadas de forma clara, já que na generalidade dos casos a vergonha e os constrangimentos educacionais impedem que as dúvidas sejam expostas.
Algumas mulheres que passam pela remoção dos ovários podem sofrer uma diminuição dos níveis hormonais e, por isso, vivenciar alguns problemas, mas nem nestes casos podemos falar numa regra imperativa. Nestes casos, a mulher pode, em função do aparecimento da menopausa, passar por sintomas como suores nocturnos, perturbações do sono, irritabilidade e secura vaginal, mas estas dificuldades podem ser enfrentadas com terapias de substituição, por exemplo.
Claro que existem muitas equipas médicas, especialmente as mais experientes, que são sensíveis a esta temática e que dotam estas doentes (e os seus cônjuges) da informação necessária, desmistificando boa parte dos seus fantasmas. Mas isto não acontece sempre. Mais: na generalidade dos casos, estas mulheres não recebem qualquer apoio psicológico.
O facto de uma intervenção cirúrgica do foro ginecológico não implicar a alteração dos níveis hormonais ou da anatomia da mulher não quer dizer que não haja lugar a medos irracionais e estes devem ser desconstruídos com informação rigorosa. Se estas mulheres e os companheiros forem devidamente acompanhados, terão oportunidade, por exemplo, de perceber que existe uma multiplicidade de factores que influenciam a satisfação sexual e o desejo. Nalguns casos, a intervenção cirúrgica até pode levá-los a melhorar a sua vida sexual. Afinal, destas operações pode resultar o alívio de dores que existiam antes e que geravam desconforto.
Fala-se mais de sexo do que há 20 ou 30 anos atrás, mas há muitos contextos em que o tema ainda não é discutido abertamente, para prejuízo dos doentes.