Qualquer psicólogo clínico conhece bem os riscos de uma depressão não tratada. Como já referi inúmeras vezes, tal como acontece em relação à nossa saúde física, não devemos considerar que as perturbações psicológicas se curam “apenas” com a passagem do tempo. Se é verdade que todos nós atravessamos períodos de maior desgaste e abatimento, e que não é por isso que devemos ir a correr para um consultório de Psicologia, também é verdade que o subdiagnóstico dos transtornos depressivos contribui para a agudização dos problemas.
No caso específico da depressão pós-parto, a ausência de tratamento adequado está muitas vezes relacionada com a dificuldade em aceitar que o nascimento de um filho possa estar associado a uma forma de depressão. A negação do problema pode levar a que, nalguns casos, esta perturbação se estenda por muito tempo.
As mulheres com maiores dificuldades financeiras correm ainda mais riscos, já que nestes casos o recurso à ajuda especializada é ainda menos frequente. Como a depressão é uma doença que não se cura com o tempo, existe o risco de se transformar numa doença crónica, tal como sugerem as pesquisas efectuadas nesta área. Dentre as mulheres com fracos recursos, uma em cada cinco mães com crianças com mais de um ano de idade apresenta sintomas depressivos moderados ou graves. Ou seja, à medida que as crianças crescem, a prevalência da depressão materna não só não diminui como pode aumentar. O mais irónico é que, em muitos destes casos, a recuperação dependeria de uma intervenção multidisciplinar breve.
A depressão materna está directamente associada a problemas de saúde e de desenvolvimento das crianças, pelo que é imprescindível que olhemos para este problema com rigor. Como a generalidade dos pais e mães levam os seus filhos regularmente ao médico de família para consultas de rotina, esta poderia muito bem ser uma oportunidade para identificar mães deprimidas e encaminhá-las para consultas de especialidade. Como refiro tantas vezes, o Centro de Saúde perto de casa pode ser o primeiro recurso para fugir ao isolamento a que uma depressão conduz.
Se é verdade que cada caso implica uma história de vida única e especial, também é certo que todas as mulheres acabam por apresentar melhorias quando recebem tratamento especializado que, de um modo geral, combina a prescrição de medicamentos com a Psicoterapia. A intervenção especializada ajuda a reduzir gradualmente os sintomas da depressão e melhora a forma como as mães gerem os comportamentos dos seus filhos.