“Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na justa medida, no momento certo, pela razão certa e da maneira certa – isso não é fácil.”
Aristóteles, Ética a Nicómaco
A raiva é uma emoção por que todos passamos nas mais diversas circunstâncias. A generalidade das pessoas exterioriza este sentimento sob a forma de irritabilidade ou até de pequenas explosões emocionais. Seria, no mínimo, ingénuo pensar-se que é possível evitar esta emoção, quanto mais eliminá-la por completo das nossas vidas. Mas ninguém aprecia sentir raiva, tal como ninguém gosta de se sentir triste. O que fazemos quando sentimos raiva? Dependendo dos níveis de raiva, podemos exteriorizá-la de formas mais ou menos ajustadas. Alguns de nós precisam, sobretudo, de desabafar com alguém – telefonar a um familiar ou amigo pode ser altamente terapêutico nestas circunstâncias. Outros precisarão, antes de mais, de espairecer, passear, ou simplesmente estar sós, para que possam auto-acalmar-se, evitando, assim, comportamentos impulsivos.
Quando nos sentimos dominados pela raiva, aumenta seriamente a probabilidade de falharmos nalguma parte do desafio de Aristóteles: arriscamo-nos a zangar-nos com a pessoa errada, a exagerarmos na medida em que nos zangamos, a zangarmo-nos na altura errada, a explodirmos pelos motivos errados ou a expressarmo-nos da forma menos correcta. Em suma, aumenta a probabilidade de nos arrependermos daquilo que fizemos.
Como se sabe, são muitos os estudos fidedignos que associam a prática regular de exercício físico ao bem-estar emocional, mas até aqui havia poucas evidências de que o desporto tivesse algum impacto na gestão da raiva. Uma investigação realizada nos Estados Unidos revelou que o exercício físico potencia o alívio da raiva nos homens. Aparentemente, a prática desportiva tem um efeito protector contra a indução do sentimento raiva, tal como a toma diária de aspirina previne a ocorrência de um ataque cardíaco. Este factor não é, em si mesmo, a resolução para os nossos maiores problemas. De resto, apesar dos benefícios relatados, a prática de exercício não altera os resultados fisiológicos da raiva – a probabilidade de a pessoa sentir-se enraivecida perante determinados estímulos diminui, mas a resposta em termos cerebrais (analisada através de electroencefalograma) mantém-se.
Apesar de serem necessárias mais investigações nesta área, a verdade é que a prática regular de exercício físico contribui, claramente, para a nossa saúde mental.