Independentemente do lema de vida de cada pessoa, todos nós ambicionamos ser felizes. Claro que aquilo que me faz feliz pode não ser exactamente aquilo que fará o leitor feliz. Os sonhos de cada pessoa são únicos, especiais. No entanto, algumas pessoas parecem conformar-se com a ideia de que é impossível serem felizes. Resignam-se perante escolhas mal sucedidas, cedem ao medo de arriscar, escondem-se na sua zona de conforto. Viverão? Ou sobreviverão? Repito muitas vezes em sede de terapia que “Viver com medo não é viver. É sobreviver”. Viver implica correr riscos, sim. Implica a possibilidade de nos expormos à rejeição e à perda mas implica sobretudo a possibilidade de experienciarmos emoções positivas muito intensas e isso é o que dá cor à vida de cada um, independentemente do percurso que se faça.
Quanto mais intensas forem as emoções por que passarmos (positivas ou negativas), maior será a probabilidade de nos sentirmos desorientados ou até mesmo descontrolados. Perder alguém de quem gostamos de forma repentina ou passar por uma multiplicidade de perdas significativas podem deixar-nos abatidos, prostrados. Níveis intensos de stress causam-nos cansaço e dão-nos vontade de fugir. Mas valerá a pena fugir destas emoções intensas?
Quando queremos uma vida “em paz” e tentamos fugir à turbulência das emoções fortes corremos sobretudo o risco de limitar a nossa experiência de vida. Evitar situações que, aos nossos olhos, possam expor-nos à rejeição ou à perda acaba por conduzir-nos precisamente à rejeição ou à perda. Quando uma pessoa proíbe a si mesma determinadas experiências porque tem medo de voltar a sofrer, espera que o seu medo possa diminuir com a passagem do tempo mas, na realidade, esta evitação mantém o medo presente. Qualquer que seja a perda ou a rejeição por que tenhamos passado antes, não há por que olhar para as novas experiências com medo. Nem todas as novas situações nos conduzirão a níveis de stress e de ansiedade como aqueles por que passámos antes mas a única forma de confirmar que o nosso medo é irracional e prejudicial é sair da zona de conforto e arriscar.
A Maria cresceu num lar marcado pela infidelidade – a mãe traíra o seu pai repetidas vezes e estes episódios marcaram a forma como olha para as relações amorosas. Depois de alguns relacionamentos curtos, marcados pela evitação de intimidade, conheceu um homem por quem se apaixonou, em quem confiou e com quem casou. Infelizmente, o marido traiu-a, acabando por alimentar a sua crença de que “não podemos confiar em ninguém”. Sentiu-se novamente rejeitada. Mais do que nunca, decidiu então que deveria ser muito cuidadosa em relação ao amor romântico. Quis proteger-se, defender-se da possibilidade de voltar a sofrer de forma tão intensa – o que faz todo o sentido. De resto, o medo é, até certo ponto, saudável porque nos impede de correr riscos desnecessários. Mas para que a Maria possa ser verdadeiramente feliz e possa “sugar” a vida, terá de voltar a correr riscos, terá de voltar a apostar. Se continuar apenas a circular entre o trabalho, a sua casa e alguns encontros com os amigos, impedindo-se a si mesma de conhecer pessoas novas e de se envolver em termos românticos, não correrá o risco de voltar a magoar-se. Mas também não encontrará a pessoa com quem possa reconstruir o sonho de formar uma família. Nem todas as pessoas precisam de constituir família para serem felizes, mas a Maria precisa.