Começando imediatamente por desfazer eventuais equívocos provocados pelo título deste texto, este não é um guia de auto-ajuda que garanta a felicidade eterna. É, isso sim, uma pequena reflexão sobre o que está por detrás da felicidade de cada pessoa. E porquê? Porque as investigações acerca deste tema têm proliferado nos últimos 10 anos; e porque aquilo que comummente associamos a estados de felicidade nem sempre corresponde ao que estas investigações evidenciam.
Quase todos crescemos com a ideia de que um adulto feliz é alguém que está casado, tem filhos e quanto mais dinheiro, melhor. Mas a verdade é que nem todas as pessoas dependem desta fórmula para serem felizes, pelo que importa desmistificar algumas crenças.
É verdade que as pessoas casadas são normalmente mais felizes do que as solteiras mas, como tenho dito tantas vezes, isso só acontece quando se está satisfeito com a relação conjugal – as pessoas insatisfeitas com o seu casamento evidenciam menor bem-estar do que as pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas. Estar feliz no casamento equivale quase sempre a níveis mais elevados de saúde física e emocional mas esse não é o factor com correlação mais elevada com estados de felicidade. Então qual é? Segundo investigações recentes, é o bem-estar que resulta das interacções sociais.
Estar bem casado é preditor de felicidade. Mesmo que, com o decurso do tempo, o casamento se desgaste e o divórcio constitua uma etapa para nos vermos livres do mal-estar de uma má relação conjugal, o mais provável é que mais cedo ou mais tarde voltemos a querer estar ao lado de alguém.
No que diz respeito ao dinheiro também existem alguns mitos, nomeadamente o de que quanto mais se ganha, mais feliz se é. É óbvio que quanto mais dinheiro ganhamos, mais coisas podemos comprar e isso contribui para o nosso bem-estar. Mas aquilo que ganhamos só é proporcional aos níveis de bem-estar até certo ponto. Há um limite a partir do qual pouco importa quanto se ganha – não vai influir sobre a nossa felicidade.
Outro mito associado ao dinheiro está relacionado com a ideia de que o dinheiro só atrapalha a nossa vida. Trata-se de um disparate na medida em que o dinheiro permite-nos aceder a melhores cuidados de saúde, permite-nos organizar a nossa agenda no sentido de trabalharmos menos e reduzirmos os nossos níveis de stress e garante-nos mais tempo com a família.
Mas não é a gastar dinheiro que somos mais felizes, claramente. Segundo as últimas pesquisas, somos verdadeiramente felizes quando conversamos com outras pessoas ou durante a relação sexual. Há quem assuma que é feliz enquanto descansa e relaxa, mas a verdade é que nesses momentos a nossa mente divaga e isso tanto pode ser bom, como pode ser mau. Quando estamos a conversar com alguém ou a fazer amor, estamos a viver o momento e essas são fontes de prazer inigualáveis.
Então e os filhos? São ou não a principal fonte de felicidade? Os estudos demonstram que as pessoas que não têm filhos são mais felizes do que aquelas que têm filhos. E, não raras vezes, uma relação conjugal melhora com a saída de casa dos filhos. A verdade é que a educação e os cuidados prestados a uma criança roubam muita energia. Cuidar dos filhos implica muitas horas de trabalho por dia, muito cansaço e algum tédio até. Então, por que é que a generalidade dos pais e mães se refere aos momentos passados com os seus filhos como sublimes? O que acontece é que no meio de todo o tédio e de tanto cansaço há os chamados momentos de glória, como quando uma criança diz, do nada, “És tão linda mamã”, que aquecem o coração de qualquer pai ou mãe e que suplantam o resto do dia, alterando a percepção da realidade.