Quando falamos de depressão, referimo-nos a uma perturbação cada vez mais conhecida. Infelizmente, nem toda a informação a que acedemos sobre esta temática é rigorosa, pelo que continuam a existir muitas dúvidas acerca da doença do século. Tratando-se de uma doença incapacitante e que requer intervenção especializada, esta é também uma doença que pode assumir diferentes formas, em função da sintomatologia associada mas também da intensidade desses sintomas. Nalguns casos, como na depressão atípica, pode até levar algum tempo até que o problema seja correctamente identificado. Entretanto, a doença vai corroendo relações familiares e sociais.
A partir do momento em que há um diagnóstico, abre-se uma janela de oportunidades, já que o doente passa a ser acompanhado, sentindo-se mais amparado e confiante. O simples facto de existir um nome para o problema e de este ser tratável é a luz ao fundo do túnel que há muito não se vislumbrava. De um modo geral, a intervenção médica inclui a prescrição de medicação antidepressiva e ansiolítica, que contribui para o alívio dos sintomas ao fim de algumas semanas de tratamento. A partir daí as mudanças não são sempre visíveis nem tão-pouco rápidas. Há avanços e retrocessos e, mesmo que o doente seja monitorizado com frequência, podem existir momentos de frustração e desesperança. Como a depressão é uma doença que distorce a nossa percepção sobre a realidade, o pessimismo pode conduzir ao desespero, à sensação de que nada vai melhorar.
Algumas pessoas respondem melhor do que outras à medicação, o que fará com que, para muitos, o processo de recuperação possa ser especialmente moroso. E se não é fácil lidar com uma doença que nos rouba a alegria, o entusiasmo e a energia, é-o ainda menos quando se perspectiva a possibilidade de o tratamento se prolongar no tempo. Se os medicamentos não produzirem o efeito esperado e/ou se for necessário alterar a prescrição e, ainda assim, as mudanças ficarem aquém das expectativas, é natural que o doente se sinta ainda mais perdido. De facto, nalguns casos a depressão pode ser mais resistente à medicação do que noutros.
Mesmo que uma pessoa não esteja totalmente incapacitada e consiga, por exemplo, manter o seu emprego, poderá sentir-se absolutamente devastada com o prolongamento dos sintomas, com o facto de carregar este fardo há tempo de mais. E esta angústia nem sempre é visível. Ainda que haja ideação suicida, tão frequente nos casos de depressão grave, os familiares e amigos mais próximos podem não ter noção. É difícil transpor para palavras a sensação de vazio e de inutilidade destes doentes, que seguem à risca as recomendações do seu médico e, ainda assim, sentem vontade de desaparecer.
Não se trata de pessoas fracas, pelo que não há, realmente, nenhum motivo para sentir vergonha mas infelizmente os sentimentos de culpa também podem fazer parte do “pacote” desta perturbação.
Para algumas pessoas, a única resposta possível para combater este transtorno é o recurso à medicação. Ignoram, no entanto, que a Psicoterapia constitui uma ajuda fundamental, eficaz e validada no tratamento da depressão. Existem diferentes formatos terapêuticos disponíveis, mas a aplicação de técnicas terapêuticas de natureza cognitivo-comportamental é comprovadamente eficaz entre estes doentes. Tratar-se-á de um processo não-invasivo e sem efeitos secundários, que inclui conversas com um psicoterapeuta e alguns exercícios feitos em casa. Aqui a função do psicólogo não passa por analisar o doente, mas antes por dotá-lo de competências que permitam gerir os seus pensamentos mais negativos de forma regrada e eficaz.
Nenhum técnico de saúde mental faz milagres e há situações clínicas mais complexas do que outras, mas a Psicoterapia é um recurso que não deve ser desvalorizado e que pode ser a esperança de muitos doentes.