Já aqui falei sobre a importância dos amigos na nossa vida. A amizade é um dos bens mais preciosos que alguém pode ter, contribuindo para o aumento do bem-estar e dando muito mais sentido à vida. Também já mencionei o impacto da satisfação conjugal no nosso bem-estar físico e emocional – as pessoas que se sentem felizes no casamento têm mais saúde do que todas as outras, mas as pessoas infelizes com a sua relação conjugal apresentam níveis de bem-estar inferiores aos das pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas. Em suma, vivermos rodeados de relações afectivas seguras contribui directamente para o aumento do nosso bem-estar físico e psicológico.
Hoje vou mais longe e, reportando-me a um estudo longitudinal recente, posso dizer que as nossas relações sociais e familiares contribuem para o aumento da nossa esperança de vida. Ter uma rede social (real) sólida dá-nos, literalmente, anos de vida. Para que se perceba melhor, o isolamento social acarreta riscos para a nossa saúde sendo os seus danos:
· Equivalentes a fumar 15 cigarros por dia;
· Mais perigosos do que a inexistência de exercício físico;
· Comparáveis ao impacto do alcoolismo;
· Duas vezes mais perigosos do que a obesidade.
Mas como é que a nossa rede social influencia a longevidade? De múltiplas formas. A família, os amigos e até os vizinhos contribuem para que nos sintamos amparados, dão-nos a noção de que há alguém que se preocupa connosco, ajudam-nos a fazer melhores escolhas e atribuem maior significado à vida. Estarmos inseridos nestes grupos (familiar, social, comunitário) contribui para que nos sintamos também responsáveis pelas pessoas que deles fazem parte e isso traduz-se normalmente em maiores cuidados e menos riscos.
Quando analisamos a forma como cada pessoa olha, retrospectivamente, para a sua vida, percebemos uma diferença significativa entre as pessoas que têm uma rede social sólida e aquelas que estão mais isoladas socialmente: mesmo que tenham passado por eventos semelhantes, as pessoas mais sós mostram-se mais indefesas e ameaçadas. Ironicamente, estas pessoas são menos propensas a pedir ajuda especializada quando é preciso.
Existem ainda marcadores físicos que nos ajudam a perceber estas diferenças: as pessoas mais sós apresentam níveis mais elevados de adrenalina no sangue, indicando um grau de agitação mais elevado. Como esta hormona também está associada ao combate à inflamação e à infecção, o isolamento social parece estar directamente associado ao processo de envelhecimento.
Mas há mais: as pessoas mais sós são normalmente perturbadas por sucessivas interrupções do sono – podem até dormir tanto como as outras pessoas, mas o seu sono tem muito menos qualidade porque acordam várias vezes ao longo da noite.
Desengane-se quem pensar que estas conexões são especialmente importantes entre os mais velhos. Este efeito protector resultante das redes sociais é generalizável a todas as fases do ciclo de vida.
A sociedade actual e a tecnologia de consumo leva-nos muitas vezes a acreditar que as interacções sociais presenciais não são assim tão importantes, mas são-no, quer em termos da nossa saúde física, quer ao nível da saúde emocional.