De geração para geração somos cada vez melhores pais e mães – mais centrados nos afectos, mais disponíveis. E se o papel da mãe tem sofrido algumas alterações, as mudanças são ainda mais visíveis no que diz respeito ao papel do pai na vida de uma criança. Ao contrário do que acontecia há algumas décadas atrás, em que as famílias eram basicamente organizadas segundo o modelo tradicional e o pai era, sobretudo, a fonte de rendimento e, nalguns casos, a autoridade máxima, os pais dos nossos dias são também uma fonte de segurança emocional e, independentemente do seu percurso profissional, é quase sempre esperado que invistam em todas as áreas da educação dos filhos.
Como tenho referido tantas vezes, as crianças precisam tanto do pai como da mãe, pelo que, mesmo em caso de divórcio, é fundamental que mantenham o contacto regular com os dois progenitores e que estes laços se mantenham fortes. Mas se já sabíamos que o pai tem um peso muito importante na estabilidade emocional dos seus filhos, só agora surgiram alguns dados que evidenciam o impacto da relação pai-filho durante a infância na estabilidade emocional que se adquire na idade adulta.
Um estudo divulgado recentemente pela Associação Americana de Psicologia mostra que as memórias de uma relação calorosa com o pai durante a infância estão directamente relacionadas com a capacidade para enfrentar o stress do dia-a-dia. A maior parte das pesquisas efectuadas nesta área focam a importância do vínculo com a mãe. Como mostra esta investigação, o pai desempenha um papel fundamental na saúde mental dos seus filhos e isso é visível na idade adulta.
Partindo da qualidade dos laços dos participantes com o pai e a mãe, bem como do tempo que cada um dedicara aos filhos aquando do seu crescimento, os investigadores concluíram que a maior parte das pessoas em análise terá tido uma relação mais próxima com a mãe do que com o pai durante a infância, o que é condizente com o facto de as mães serem as principais cuidadoras dos filhos e, muitas vezes, a principal fonte de conforto. Mas o mais interessante deste estudo é o facto de se ter concluído que os homens que relataram ter mantido uma boa relação com o pai durante a infância tenderem a ser menos impulsivos na forma como reagem aos eventos stressantes do dia-a-dia do que aqueles que relatam relações mais pobres. Esta associação não é tão evidente entre as mulheres. O estudo mostrou ainda que os participantes tendem a relatar mais eventos stressantes quando há memórias de uma relação empobrecida com o pai e com a mãe, o que parece ser condizente com o facto de a atenção e o carinho dos pais ser fundamental na aquisição de competências que nos permitem gerir as relações afectivas com mais segurança – quer durante a infância, quer na idade adulta.