Uma das queixas mais comuns com que me confronto via e-mail diz respeito ao afastamento entre marido e mulher ao fim de alguns anos de relação, particularmente depois do nascimento do primeiro filho. Nalguns casos, não existem muitas discussões, pelo que os problemas podem estar camuflados por uma harmonia aparente. Quando são os homens a escrever-me, o pedido de ajuda inclui quase sempre menção ao empobrecimento da intimidade sexual. A comunicação decresce, o fosso instala-se, os gestos de carinho desvanecem-se e, não raras vezes, passam-se meses sem que o casal tenha relações sexuais. As mulheres também olham para a intimidade sexual como um barómetro da satisfação conjugal, mas são normalmente mais rigorosas na análise da situação – queixam-se da inexistência de intimidade física e emocional, reconhecem que há sérias dificuldades de comunicação, apontam o dedo à aparente inércia dos maridos, lamentam a inexistência da partilha acerca do dia de cada um, assumem a incapacidade para ir ao encontro daquilo de que o outro precisa para se divertir. Sendo normalmente mais atentas aos detalhes, as mulheres fazem soar o alarme mais cedo, mas isso não implica que o façam de forma ajustada e muito menos que sugiram alternativas eficazes para o problema.
Quando uma mulher começa a fazer o balanço da sua relação conjugal e/ou da vida familiar e percebe que algo se perdeu, é comum confrontar o marido com críticas mais ou menos ferozes, que podem levá-lo a fechar-se ainda mais sobre si mesmo, agudizando as dificuldades. De resto, alguns casais com quem tenho trabalhado relatam precisamente este padrão comportamental – ela criticava, ele tentava “não arranjar problemas”, resguardando-se cada vez mais e agravando o desespero dela. Alguns admitem que deixaram de falar sobre o seu dia-a-dia com medo do conflito; outros assumem que foram engolidos pelo papel parental e que, a partir daí, deixaram de se divertir a dois. Como muitos casais só reconhecem o problema ao fim de muito tempo, há espaço para a cristalização de hábitos que mantêm a família minimamente funcional, ainda que a qualidade dos afectos decresça de dia para dia. Estes adultos conseguem ser companheiros, dividindo os seus afazeres, partilhando as responsabilidades enquanto pais, mas não reflectindo sobre aquilo de que precisam para serem felizes.
Quando um deles se apercebe do afastamento profundo, isto é, da inexistência de intimidade, podem surgir ultimatos que, aos olhos do outro, são vistos sobretudo como ameaças e não como chamadas de atenção para um problema que pode e deve ser resolvido. A terapia de casal é normalmente a alternativa mais eficaz para estes casais que, algures no seu percurso a dois, deixaram de comunicar eficazmente. Nalguns casos, o terapeuta acaba por perceber que as dificuldades de comunicação estiveram sempre presentes, agudizando-se com a passagem para uma etapa diferente do ciclo de vida familiar. Num caso ou no outro, não fazer nada equivale a deixar que a relação apodreça.