O diagnóstico da doença oncológica pode implicar mudanças bruscas na vida do paciente – internamentos, cirurgias, quimioterapia e uma panóplia de outras intervenções – e o comprometimento do normal funcionamento das actividades diárias. Também não é difícil perceber que este impacto é generalizável aos familiares mais próximos, que, muitas vezes em pouco tempo, têm de se adaptar às novas circunstâncias, dando o seu melhor para acompanhar física e emocionalmente o doente. Como já referi aqui, o impacto é particularmente intenso na vida do cônjuge destes doentes.
Numa pesquisa que envolveu dezenas de milhares de famílias, acompanhadas ao longo de mais de uma década, foi possível perceber a dimensão do impacto do diagnóstico de cancro da mama na saúde emocional do cônjuge: O marido de uma doente com cancro da mama tem um risco aumentado de desenvolvimento de transtornos emocionais graves e que podem justificar o internamento (depressão, perturbação bipolar e outras).
O diagnóstico de cancro da mama pode comprometer a saúde mental das pacientes afectadas, mas não só – de toda a família e do cônjuge em particular. O stress, a falta de apoio emocional, o desamparo social e as dificuldades financeiras podem são alguns dos factores que contribuem para a deterioração do bem-estar emocional destes homens. A probabilidade de estes maridos serem hospitalizados em função de perturbações de humor é 39 por cento maior do que nos homens cujas companheiras não têm cancro da mama. Além disso, o risco de hospitalização é maior nos casos mais graves de cancro da mama do que nos menos graves. Os homens cujas companheiras tiveram uma recaída também são mais propensos a desenvolver uma perturbação emocional do que aqueles cujas parceiras permaneceram livres do cancro. Os homens cujas companheiras morreram após uma batalha contra o cancro da mama têm um risco 3,6 vezes maior de desenvolver uma perturbação de humor por comparação com os homens cujas parceiras sobreviveram.
Seria desejável que o diagnóstico desta perturbação fosse acompanhado de uma triagem rigorosa, que permitisse diagnosticar numa fase inicial os sintomas depressivos e, assim, evitar esta consequência da doença oncológica.