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9.9.10

RELATIVIZAR OS PROBLEMAS

Vivemos cada vez mais sob o paradigma da felicidade e, de uma forma mais ou menos assumida, dependendo da personalidade de cada um, o nosso dia-a-dia é muito marcado pelo hedonismo, isto é, pela busca do prazer. De um modo geral, e independentemente da classe social, queremos sentir-nos realizados profissionalmente, não sendo suficiente um ordenado aceitável ao fim do mês, casamos por amor e mantemo-nos casados apenas se o amor vigorar, rodeamo-nos de pessoas que contribuam para o nosso bem-estar e afastamo-nos daquelas que nos deprimem. Em suma, buscamos a satisfação em todas as áreas. Esta forma de vida tem obviamente muitas vantagens, desde logo porque nos impede de nos resignarmos em relação ao que nos insatisfaz e, assim, vivemos com a sensação de que estamos a lutar pelos nossos objectivos. Mas a busca pelo prazer não deve ser confundida com a gratificação imediata, isto é, perseguirmos os nossos sonhos e lutarmos para sermos mais felizes também inclui obstáculos e implica que sejamos capazes de trabalhar para o alcance das nossas realizações a médio ou longo prazo.

Infelizmente, algumas pessoas “confundem” necessidades com desejos, reagindo de modo excessivamente emocional às frustrações com que se deparam, como se a vida pudesse ser um mar de águas sempre calmas. Sermos emocionalmente inteligentes implica reconhecer que as nossas condições de vida não são SEMPRE as melhores. É impossível termos tudo aquilo que queremos e, especialmente, quando queremos, mas isso não deve condicionar o nosso bem-estar precisamente porque se trata de desejos e não de necessidades.

Deparo-me muitas vezes em sede de terapia com pessoas que se queixam e se deixam abater por determinadas circunstâncias da sua realidade que, vistas de fora, não são propriamente dramáticas. O que quero dizer é que nem sempre é a realidade que é desgastante, mas sim a nossa percepção acerca da realidade. Quando atribuímos à não concretização de um objectivo / desejo o peso que normalmente atribuímos às questões estruturantes da nossa vida, arriscamo-nos a desperdiçar energia.

Descatastrofizar alguns problemas é relativamente simples, ainda que requeira esforço: bastar-nos-á questionarmo-nos acerca da (real) importância de cada acontecimento. Experimente perguntar “Isto é algo de que eu preciso ou é algo que eu desejo?” – a diferença é determinante. Quando não obtemos aquilo de que precisamos, o nosso bem-estar é profundamente abalado; quando não obtemos aquilo que desejamos, é natural que fiquemos desapontados, mas o “drama” deve acabar aí. Quando reagimos a obstáculos mais ou menos banais como se se tratassem de questões de vida ou de morte, tornamo-nos muito mais vulneráveis às perturbações emocionais.

Racionalizar acerca dos problemas implica a colocação sistemática da questão “Quão importante é este problema?”. Desdramatizar aquilo que nos entristece ou enfurece não é mascarar a realidade, é ser capaz de relativizar e arregaçar as mangas para contornar os obstáculos.
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