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23.9.10

TAREFAS DOMÉSTICAS E SATISFAÇÃO SEXUAL

Quando pensamos em intimidade sexual, dificilmente associamos o tema aos afazeres diários, sejam eles as tarefas domésticas, os compromissos profissionais ou os cuidados com os filhos. Claro que todos os casais que se multiplicam diariamente para cumprir com eficácia e qualidade os seus compromissos reconhecerão que nem sempre sobra tempo e, sobretudo, disponibilidade para o amor romântico e para a intimidade sexual que marcaram os primórdios da sua relação. No entanto, a estranheza do título deste texto vai além da gestão do tempo.

Ouço muitas vezes em consulta frases como “A nossa intimidade sexual foi substituída pelas tarefas domésticas”, “Ele só pensa em sexo e não me ajuda”, “Ela é obcecada pelas limpezas, não sobra espaço para um carinho”. Ridículo? Talvez não. Claro que quando as coisas são colocadas nestes termos a comunicação do casal já sofreu um grande revés. Mas estas afirmações são muitas vezes proferidas por pessoas que se amam e que, algures no seu percurso a dois, terão deixado de conseguir sentir-se compreendidas. Uma mulher que passe a vida a criticar o marido a propósito das tarefas domésticas pode estar a passar a mensagem “errada”, na medida em que também ela tem, obviamente, necessidade de se sentir desejada, acarinhada. Por que se detém, então, sobre os afazeres domésticos? O que a impede de investir nos gestos de afecto? E por que pergunta, em terapia, “Isto é ridículo não é?”.

A intimidade sexual é um dos pilares das relações amorosas – tanto para os homens como para as mulheres. Mesmo depois do entusiasmo dos primeiros tempos de namoro, quase todas as pessoas precisam de expressar e sentir o amor romântico através da sexualidade. Mas, como já tive oportunidade de referir aqui antes, existem algumas diferenças entre homens e mulheres que podem agudizar-se com a chegada dos filhos. A generalidade das mulheres precisa de se sentir emocionalmente segura para que expresse de forma sólida o seu desejo sexual. Precisam de confiar no parceiro, precisam de sentir que ele está atento às suas necessidades, que é capaz de abdicar de alguns interesses pessoais para investir naquele compromisso – mesmo que isso inclua necessidades tão pouco românticas como a ajuda na lida da casa.

Nenhuma mulher “escolhe” abdicar da sua própria satisfação sexual para castigar um marido pouco cooperante com as tarefas do quotidiano. Não é um processo consciente, ainda que, com a agudização do ciclo vicioso, a páginas tantas seja possível ouvi-las dizer “Recuso-me a ter sexo só mesmo para o castigar”. Mas este é já o fruto da manutenção prolongada das falhas de comunicação. O desespero que resulta do prolongamento da sensação de desamparo, do “Tu não me ouves”, leva a que muitas mulheres deixem de confiar no cônjuge, refugiando-se no papel maternal e assumindo a realização dos múltiplos afazeres domésticos. Gerem o desamparo desistindo gradualmente de pedir ajuda. Deixam de se queixar e passam a atacar de forma feroz os esforços do companheiro, levando a que, do outro lado, a mensagem seja percepcionada de forma distorcida.

É relativamente fácil olhar para um homem e afirmar que só valoriza o sexo, mas a verdade é que a centralização dos afectos na sexualidade pode decorrer precisamente do desamparo e das críticas a que estão sujeitos. Se se esforçam por implementar mudanças comportamento, como seja o simples facto de passarem a levantar a mesa depois do jantar e ouvem frases como “Não fizeste mais do que a tua obrigação; eu sempre fiz tudo sozinha…”, é natural que se sintam injustiçados.

Como, infelizmente, as mulheres continuam a assumir a maior parte das tarefas domésticas, é na altura do nascimento do primeiro filho, e em função da multiplicação de afazeres, que os problemas começam. Esperar que o companheiro adopte uma série de hábitos da noite para o dia corresponde a uma idealização excessiva que, a prazo, traz problemas bastante mais sérios.

Desfazer estes nós em sede de terapia nem sempre é fácil, uma vez que os pedidos de ajuda surgem muitas vezes numa fase avançada da crise conjugal. É relativamente fácil para um jovem casal ser “engolido” pela nova etapa do ciclo de vida, despertando para a necessidade de intervenção externa só ao fim de dois ou três anos, por exemplo.

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