A maior parte dos casais que me procuram em sede de terapia conjugal queixam-se da inexistência de períodos de tempo a dois. Em muitos casos, o nascimento dos filhos e a crescente acumulação de papéis deram azo a um distanciamento que é difícil de explicar mas que se traduz quase sempre na diminuição da intimidade física e emocional. Ao fim de alguns anos em que ambos deram o seu melhor para garantir a educação dos filhos, a progressão na carreira, os contactos com os amigos e muitas outras actividades, é relativamente fácil cair-se em rotinas perigosas que parecem impossibilitar a existência de tempo para o namoro. No entanto, existem muitos casais que conseguem gerir os seus compromissos e, ainda assim, manter os níveis de intimidade elevados. Como o fazem? O que podem os casais com dificuldades aprender com eles?
Começar devagar – quando o distanciamento toma conta do quotidiano de um casal e/ou as discussões são mais frequentes do que os momentos de diversão e cumplicidade, é legítimo que se faça esforços mais ou menos desesperados para quebrar a rotina. No entanto, a idealização excessiva pode agudizar a frustração. Por incrível que pareça, alguns casais não dispõem sequer de uma hora por semana para namorar. Então, pode ser mais ajustado tentar encontrar 10 a 15 minutos por dia a sós. Noutros casos, o orçamento não permite grande investimento em saídas a dois – comece-se por tentar deixar as crianças com os avós ou com alguém de confiança durante uma ou duas horas, de modo a usufruir de um jantar romântico em casa.
Criar rituais – Costumo propor aos casais com quem trabalho um exercício de comprometimento com as necessidades de cada um e que inclui os seguintes passos:
- Cada um dos membros do casal selecciona, a partir de uma vasta lista de actividades que os casais costumam realizar juntos, as 3 que mais gostariam que o cônjuge fizesse consigo, ou que gostaria que o fizesse mais vezes.
- De seguida, cada um partilha com o cônjuge as suas escolhas. Este exercício pode gerar algum conflito mas a mensagem que se pretende transmitir é “Eu gosto tanto de ti que eu quero mais”. Em vez de adoptar uma postura crítica em relação ao comportamento do cônjuge no passado, cada um deve centrar-se nos seus desejos para o presente. Isso implica dizer “Eu gostaria que tu tivesses ficado comigo mais tempo nas festas a que fomos” em vez de “Tu abandonas-me sempre”.
- Os frutos deste exercício surgem quando os dois membros do casal olham para os 3 itens do outro e se comprometem com um deles.
Planear com antecedência – as mudanças mais estruturantes requerem tempo e ponderação. Um fim-de-semana fora sem as crianças pode ser fácil de conceber para a generalidade dos casais, mas para outros isso pode implicar meses de preparação, mobilização de recursos e, claro, a possibilidade de sonhar a dois.
Os casais que compreendem a importância de reservar tempo para a sua relação têm esta questão em mente quando fazem escolhas sobre como gastar o tempo livre. Olham para as novas oportunidades e obrigações pensando no que é melhor para o relacionamento, e estão dispostos a dizer "não" a coisas que não acrescentam nada às suas vidas.
Quando são confrontados com a necessidade de tomar decisões relacionadas com férias, promoções de carreira, voluntariado, ou um pedido de ajuda, têm em conta estas perguntas:
- Será que isto me aproximará do meu cônjuge?
- Isto trará diversão, aventura e alegria às nossas vidas?
- Será que isto nos vai aproximar dos nossos sonhos, do que nós queremos para a nossa relação a longo prazo?
- O que é que eu perco se disser não?
- O que vai acontecer ao nosso tempo a dois?