Quase todos os casais que me procuram em sede de terapia se queixam da frequência com que discutem e da aparente incapacidade para travar os ciclos viciosos que os levam, a partir de assuntos triviais, a discussões acaloradas. Temem quase sempre que este seja um sinal de distanciamento, de desconexão – um indício de que já não gostam um do outro da mesma maneira. Enquanto terapeuta conjugal compete-me esclarecê-los que embora reconheça que estas discussões são uma fonte de desgaste e de mal-estar, não podem ser sinónimo de desconexão ou de desistência. Pelo contrário! Quando o fosso se instala e pelo menos um dos membros do casal desiste de investir emocionalmente na relação, as discussões desaparecem. Aí sim, a probabilidade de haver desconexão emocional é muitíssimo elevada. Quando duas pessoas discutem acesa e frequentemente, isso é o reflexo de que ainda se sentem muito ligadas.
O conflito é, como tenho dito inúmeras vezes, parte importante de uma relação amorosa duradoura. Mas quando as discussões tomam conta da vida de um casal, o conflito deixa de ser uma forma de crescimento e negociação e passa a condicionar a saúde física e emocional das pessoas envolvidas. Nessa altura importa parar para perceber o porquê das quezílias diárias, para identificar as causas deste mal-estar. Nalguns casos, esta desconstrução tem mesmo de ser feita em sede de terapia conjugal, sob pena de, a sós, os membros do casal conseguirem apenas eternizar o problema.
Se as pessoas ainda gostam uma da outra, por que discutem tanto e tão intensamente? A resposta é vasta, mas eis algumas pistas:
- Muitas vezes, o conflito é um substituto para a intimidade sexual. As relações sexuais são fundamentais para a relação amorosa, quer física, quer emocionalmente. Quando não acontecem, o conflito surge por coisas mínimas. Esta é uma forma de evitar lidar com o sexo porque, para alguns casais, é muito difícil discutir acerca da sua intimidade.
- Se um ou os dois membros do casal estiverem deprimidos, a intimidade fica seriamente comprometida. Importa salientar que a depressão é muitas vezes manifestada através de explosões de raiva.
- O dinheiro, tal como o sexo, é uma das principais fontes de conflito num relacionamento. A crise financeira e a falta de emprego são actualmente responsáveis por elevados níveis de stress nas famílias portuguesas, desencadeando, dentre outros problemas, transtornos depressivos.