Se olharmos à nossa volta, encontraremos com certeza uma ou duas pessoas que são exemplos de vida, de coragem e de perseverança – olhamo-las com admiração, reconhecendo o esforço que tiveram de fazer para vingar, ultrapassando obstáculos significativos, contrariando as probabilidades e a estatística. Ao mesmo tempo, somos capazes de identificar pessoas na nossa rede social cuja vida sempre nos pareceu facilitada e que, por algum motivo, não é marcada por níveis de bem-estar e realização muito elevados. O povo diz que o que não nos mata torna-nos mais fortes. Mas será mesmo assim? Precisaremos de viver eventos muito difíceis para aprendermos a valorizar a vida e o que ela tem de melhor? E, se sim, quererá isso dizer que quanto mais eventos difíceis ultrapassarmos, mais felizes e fortes seremos?
Até agora não havia propriamente grande suporte científico para a afirmação que serve de título a este texto. No entanto, um estudo longitudinal que avaliou os efeitos das adversidades na saúde mental de mais de duas mil pessoas mostrou que os eventos difíceis (perdas, desilusões, atribulações, períodos de stresse, desespero, solidão, traumas) promovem a adaptabilidade e a resiliência.
Não podemos dizer que as pessoas cujas vidas são excepcionalmente marcadas por eventos traumáticos aprendem a viver melhor, tornando-se mais resilientes. Aquilo que a investigação vem mostrar é que as pessoas expostas a ALGUNS eventos adversos relatam níveis mais elevados de bem-estar e saúde mental quer quando comparadas com as pessoas com histórico elevado de adversidades, quer quando comparadas com as pessoas sem histórico de adversidades. E o que significa isto? Significa que as pessoas expostas a alguns eventos difíceis apresentam:
- Níveis mais baixos de stress;
- Maior capacidade funcional;
- Menos sintomas de stress pós-traumático;
- Maior satisfação pessoal;
- Maior capacidade para lidar com os obstáculos do dia-a-dia.