Não existindo a idade “certa” para se perder a virgindade, é fácil reconhecer que, independentemente da idade cronológica, este passo deveria ocorrer não apenas quando o corpo se mostra pronto e ávido do prazer físico, mas sobretudo quando o desenvolvimento emocional é suficiente para lidar com as consequências que resultam de uma vida sexualmente activa. Até há alguns anos, e apesar de os pais e mães não falarem abertamente sobre o tema com os seus filhos, a educação era marcadamente diferente para rapazes e para raparigas, sobretudo devido aos riscos de uma gravidez não planeada. Hoje estas diferenças de género continuam a vigorar, ainda que mais esbatidas, e as preocupações dos educadores recaem sobretudo sobre as DST’s (doenças sexualmente transmissíveis). Infelizmente, e porque nalgumas famílias o sexo continua a ser visto como um tema tabu, quase como se se tratasse de algo sujo ou sinónimo de impureza, algumas mulheres limitam a exploração a sua sexualidade, adiando sistematicamente a perda da virgindade. Refugiar-se-ão na vontade de dar este passo “com a pessoa certa”, mas, em termos práticos, fogem dele, mesmo que se encontrem numa relação estável, submetendo-se à idealização excessiva.
De vez em quando estas queixas chegam-me ao consultório – são mulheres jovens, informadas e financeiramente autónomas, com relações amorosas que incluem beijos e carícias, mas sem que o acto sexual tenha sido concretizado. De um modo geral, o pedido de ajuda é feito na sequência do vazio que surge por estarem sós, acompanhado do medo de entrar numa nova relação e terem de assumir a virgindade. Referem-se muitas vezes a um namoro antigo e duradouro que não sobreviveu a esta questão, para o qual olham como “o” grande amor das suas vidas, aquele que as retém algures no passado. Ao mesmo tempo, sentem-se confusas com os sinais que o seu corpo emite – como qualquer outra mulher, sentem desejo, sentem-se fisicamente excitadas, mas não raras vezes olham para os sinais que o corpo emite como “sujidade”.
O trabalho terapêutico inclui a reestruturação cognitiva, a desconstrução de crenças irracionais, a assunção de que os sinais que o corpo emite não são mais do que chamadas de atenção da própria natureza, que está a indicar-lhes que é tempo de se envolverem com alguém. As suas hormonas não só não estão fora de controlo, como estão a comportar-se de forma ajustada a esta etapa do ciclo de vida.
Claro que esta não é apenas uma questão física, pelo que na maior parte destas situações há questões associadas ao desenvolvimento emocional que merecem a atenção em termos clínicos. Desvincular-se de ex-namorados da adolescência é essencial para que se sintam livres para olhar para outros homens e para que olhem para a possibilidade de construir relações emocionalmente íntimas sem medo. A Psicoterapia é normalmente a via mais ajustada para que estas mulheres possam explorar as suas dificuldades de forma segura e adquiram assim a possibilidade de viverem a sua vida em plenitude, sentindo-se seguras e emocionalmente inteligentes.