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7.10.10

TERAPIA DE CASAL – CULPAR O CÔNJUGE

Todos os dias me deparo com a necessidade de esclarecer, em sede de terapia conjugal, o perigo associado à crítica, aos ataques pessoais, à atribuição de culpas. Não posso fazer juízos de valor em relação às pessoas que, dentro e fora do consultório, responsabilizam o companheiro pela dimensão da crise conjugal – sei que não o fazem por maldade, nem tão-pouco por quererem demitir-se das suas próprias responsabilidades. Fazem-no por incapacidade, porque estão presas a ciclos viciosos, a padrões de comunicação ineficazes.

A maior parte dos casais que me procuram sentem-se presos a espirais de conflito e, desse desespero, resultam muitas vezes desabafos como “Ele não faz a parte dele”, “Ela grita comigo por tudo e por nada”, “Ele nem tenta agradar-me” ou “Ela não quer saber de mim”. Num braço-de-ferro automático, trocam acusações e cada um tenta provar que tem investido mais na recuperação da relação do que o outro. Mas a atribuição de culpas é, além de inútil e infrutífera, uma forma de desmotivar o cônjuge. A pessoa acusada acaba por sentir-se em baixo, por pensar que nada daquilo que faça será suficiente.

Como estas acusações têm como origem a angústia, não é nada fácil “convencer” os membros do casal de que estes padrões de comunicação fazem parte de uma espiral de conflito que os aprisiona e de que é preciso que ambos recuem e tentem reconectar-se para que o ciclo vicioso de desfaça.

Quando uma pessoa é sistematicamente acusada pelo cônjuge de ser a principal culpada pelo estado miserável da relação, acaba por perder a autoconfiança e sentir-se paralisada. Ao mesmo tempo que ouve o cônjuge proferir frases como “Eu não consigo mudar enquanto tu não mudares”, a pessoa que é rotulada de culpada sente-se incapaz de actuar. É como se o controlo sobre o rumo da relação estivesse nas mãos do outro e não valesse a pena fazer nada.

A atribuição de culpas limita as competências dos membros do casal, impede-os de visualizar as mudanças necessárias para que a relação volte a dar certo, impede-os de ser realmente honestos, de partilhar com clareza os seus medos, o seu desapontamento e a sua tristeza. Quando uma pessoa se convence de que o seu companheiro não se preocupa consigo nem com a relação, acaba por não reparar nos pequenos gestos, nos pequenos momentos de carinho e atenção. Ao desvalorizar estes esforços (que podem ser esporádicos), eles acabam por ser cada vez mais raros e o fosso cresce.

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