Durante anos as famílias portuguesas viveram sob o modelo de organização familiar tradicional e, em muitos casos, isso implicava o autoritarismo paternal e a imposição de regras duras, inflexíveis e nem sempre justas. A passagem do tempo implicou muitas mudanças, dentre elas o facto de sermos cada vez melhores pais – mais justos, mais afectuosos, mais atentos, mais disponíveis. Nalguns casos as mudanças não foram positivas e passou-se do autoritarismo à permissividade, que não deixa de ser mais uma forma de violência sobre as crianças.
Hoje sabemos que o autoritarismo não é uma forma ajustada de educar as nossas crianças, muito por força das investigações que têm sido levadas a cabo na área da Psicologia. Um estudo desenvolvido pela Universidade de Valência veio identificar precisamente os efeitos da forma como os pais educam as suas crianças, realçando que a punição, a privação e as regras demasiado rígidas têm um impacto negativo na auto-estima das famílias.
Existem 4 estilos de parentalidade identificados:
· Estilo Autoritativo (ou Participativo) – Os pais estabelecem regras tendo em consideração as características da própria criança. Impõem limites, sim, mas sem descurar os afectos e procurando motivar os filhos de acordo com os seus interesses. Exige-se organização, responsabilidade e respeito tendo em consideração a idade da criança, apostando nos elogios e em dar o exemplo.
· Estilo Autoritário – combina altos níveis de exigência com pouca flexibilidade. Há uma tentativa de controlar o comportamento da criança valorizando a obediência absoluta e recorrendo sobretudo à punição para a implementação das regras. São frequentes as críticas e as ameaças (“Se não fizeres os trabalhos de casa, vou contar ao pai e ele castiga-te”).
· Estilo Permissivo Indulgente – combina baixa exigência com alta flexibilidade. Os pais actuam como suporte das crianças, como realizadores das suas vontades. São afectuosos, sim, mas não são exigentes nem actuam como modelos de comportamento, acabando por apoiar as crianças independentemente do que estas façam.
· Estilo Permissivo Negligente – combina pouca exigência com pouca flexibilidade. Neste caso, o comportamento da criança é ignorado e os pais mostram-se indiferentes. Satisfazem as necessidades básicas dos filhos mas demitem-se de boa parte das suas funções parentais.
De um modo geral, psicólogos e educadores estão de acordo em relação à eficácia do modelo autoritativo. De acordo com este estudo, em que participaram mais de 900 crianças e jovens espanhóis, o modelo “ideal” é o indulgente, já que se traduz em resultados mais elevados para a auto-estima da família. De acordo com os investigadores, a imposição de regras e punições, a privação e a tentativa de forçar as crianças a fazer alguma coisa têm um efeito nocivo na auto-estima da família e estão associados a um certo grau de ressentimento, mesmo quando aplicados por pais afectuosos. Quererá isto dizer que caminhamos no sentido da infantocracia? Não. O que acontece é que enquanto pais nem sempre damos o devido valor a alguns aspectos da comunicação. É preciso mostrar interesse genuíno em relação aos problemas das crianças e dar-lhes explicações claras e razoáveis a respeito das consequências do seu comportamento. Em suma, isso implica maior envolvimento, dedicação e interesse.