Quase todos os pais e mães sofrem quando se deparam com os obstáculos que os filhos têm de enfrentar. Lamentam todas as suas frustrações, partilham as suas dores e avaliam o seu papel parental em função da (in)felicidade dos filhos. Mesmo que nem todos sejam acometidos por sentimentos de culpa, o arrependimento e a autocrítica estão quase sempre presentes. Os pais olham para trás e reconhecem que poderiam ter feito melhor, poderiam ter dado mais, poderiam ter feito algumas coisas de modo diferente. E sofrem com essa avaliação. Olham para os falhanços dos filhos como fruto dos seus erros, esquecendo-se de que cada um de nós faz o melhor que pode à medida do desenvolvimento emocional da época.
Não me compete desresponsabilizar os pais relativamente à sua influência na estabilidade e no desenvolvimento afectivo dos filhos, mas sei que os sentimentos de culpa estão muitas vezes carregados de irracionalidade e de infrutuosidade. Importa que os pais sejam capazes de perdoar a si mesmos e de separar a realidade da ficção, sob pena de estes pensamentos darem lugar a níveis elevados de stress, ansiedade e depressão.
É compreensível que uma mãe sofra com o FACTO de ter estado deprimida durante uma parte da infância dos seus filhos, já que esta perturbação tê-la-á impedido de dar às suas crianças a atenção que gostaria; mas é IRRACIONAL afirmar que foi “uma mãe horrível”. Um pai pode lamentar o FACTO de não ter conseguido poupar os seus filhos às discussões conjugais; mas será IRRACIONAL olhar para si mesmo como “um falhanço enquanto pai”. Os factos podem ser tristes, mas isso não significa que fosse possível, naquela altura, fazer melhor ou dar mais. TODOS os pais cometem erros sérios. Fazem-no diariamente. Mas estes erros não justificam tudo, não explicam todas as frustrações dos filhos. Não podemos ignorar o peso das outras relações afectivas no desenvolvimento emocional da criança. Os amigos, por exemplo, condicionam mais do que muitos pais esperariam.
Viver em paz com o passado implica o auto-perdão, implica reconhecer que os danos causados aos filhos foram o fruto do sofrimento por que os pais passaram em determinado momento. Não é possível voltar atrás mas é possível mudar a forma como olhamos para o nosso passado e ajudar os filhos de forma emocionalmente mais inteligente.