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3.11.10

TERAPIA DE CASAL – FALAR DE DINHEIRO

A gestão financeira é um dos assuntos mais sensíveis na vida da maior parte dos casais e isso reflecte-se também em sede de terapia. Tal como acontece em relação à sexualidade, há algum pudor em abordar assuntos relacionados com o dinheiro e, mesmo quando a falta de comunicação dá origem a dificuldades sérias, é mais fácil trocar acusações e culpar o outro do que colocar “as cartas” em cima da mesa e enfrentar o problema.

No início da relação este embaraço até pode ser contornado pelo facto de cada um viver em sua casa e gerir o próprio orçamento à sua medida, mas a partir do momento em que se opta por viver a dois e formar uma família, as questões relacionadas com o dinheiro têm mesmo de ser conversadas abertamente. Mesmo que os membros do casal optem por manter contas separadas e dividir as despesas de forma equitativa, há imprevistos que podem desequilibrar este esquema e, se se optar pela fuga aos assuntos sensíveis, aumenta a probabilidade de um dos membros do casal se sentir injustiçado e daí à manifestação de raiva é um passo muito curto.

Embora a generalidade das mulheres portuguesas trabalhe fora de casa, continua a existir um fosso entre ordenados de homens e mulheres mas este desequilíbrio nem sempre é evidente. Por exemplo, em sede de terapia de casal assisto muitas vezes a manifestações de ressentimento da parte de mulheres que, confrontadas com despesas que não conseguem suportar, se sentem desamparadas pelos companheiros. O que acontece é que, como esta questão não é abordada de forma clara, a mulher comete frequentemente o erro de estar à espera que o marido “adivinhe” o seu pensamento. Só é possível criticar a falta de apoio do cônjuge quando o problema é verbalizado de forma clara e o pedido de ajuda também. De outro modo, mesmo que o outro conheça o aparecimento de despesas inesperadas, pode não estar claro que a sua ajuda é necessária. Frases como “Ele nem se ofereceu para ajudar…” ou “Ele não me perguntou como é que eu iria pagar esta despesa” não fazem muito sentido porque podem traduzir a inexistência de comunicação eficaz, mas são muito frequentes nas consultas com casais.

Com a passagem do tempo e o enraizamento destas dificuldades, é relativamente fácil instalar-se um braço-de-ferro que se traduz em críticas pessoais, respostas defensivas e a conclusão de que “É muito difícil falar de dinheiro com ele(a)”. A páginas tantas, falar de dinheiro implica discutir acesamente.

Para que o dinheiro não se transforme num assunto tabu é preciso que cada um dos membros do casal aborde o assunto abertamente, assumindo as suas necessidades e dificuldades. Cada pessoa é única e tem a sua perspectiva acerca do dinheiro e da gestão financeira, dependendo também do que está a acontecer na sua vida. Qualquer um de nós pode falhar, mas é preciso que sejamos capazes de falar e ouvir o cônjuge com calma e serenidade para que as soluções sejam encontradas a dois.
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