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17.1.11

DISCUSSÕES CONJUGAIS – PERCEBER O QUE O OUTRO ESTÁ A SENTIR

Quase todos os casais discutem e ainda bem. Ao contrário do que tantas vezes é veiculado, o conflito faz parte das relações afectivas e é uma forma de promover a intimidade emocional. Claro que as discussões são uma fonte de desgaste e sofrimento. Ninguém gosta de discutir com a pessoa que ama. E é óbvio que nenhuma relação sobrevive à presença constante do conflito. Mas as crises também são oportunidades – de crescimento, de amadurecimento, de aproximação, desde que haja cedências.

Infelizmente, quando discutimos também corremos riscos. Quando a activação fisiológica é muito intensa e permitimos que “os nervos” tomem conta de nós, é relativamente fácil perder a calma e dizer aquilo que não se quer dizer. Mesmo quando nos sentimos desesperados por passar uma determinada mensagem, é fácil descontrolarmo-nos e transmitirmos emoções muito díspares das que estamos efectivamente a sentir.

Sendo praticamente infrutífero fugir do conflito numa relação íntima, quase todas as pessoas concordarão que as discussões conjugais evocam emoções intensas. Mas aquilo que “vemos” nem sempre corresponde exactamente ao que a outra pessoa está a sentir. De resto, quanto mais acesa é uma discussão, maior e mais rápida é a escalada de agressividade, levando a que os membros do casal mostrem sobretudo raiva. O que acontece quando, ao olharmos para o nosso cônjuge lhe reconhecemos apenas um ataque de fúria? Sentimo-nos atacados e dificilmente empatizaremos com o seu desespero. De facto, a percepção que formamos acerca do que o outro está a sentir influencia os nossos pensamentos, os nossos sentimentos e, claro, as nossas reacções.

O leitor perguntar-se-á: “Quando duas pessoas discutem, mostram outras emoções para além da raiva?”. Uma discussão pressupõe a expressão de emoções negativas, mas não necessariamente a raiva – também é possível mostrar tristeza e vulnerabilidade, por exemplo. Quando mostramos apenas raiva, o outro sente-se ameaçado pela hostilidade, pelo tom crítico e/ou pelas acusações envolvidas e responderá com agressividade.

Pior do que percepcionarmos a raiva do nosso cônjuge é percepcionar o seu desprezo, a sua negligência, já que isso implica que, aos nossos olhos, o outro não está a ser capaz de mostrar compromisso, investimento na relação. Quando um dos membros do casal está triste, pode não ser capaz de expressar a sua vulnerabilidade, remetendo-se ao silêncio ou às respostas monossilábicas, passando a mensagem “errada”. Como o que conta é a percepção que cada um de nós forma a respeito do que o outro está a sentir, é relativamente fácil cair-se numa espiral de conflito marcada pela sensação de incompreensão.

Fazer uma pausa, voltar atrás e tentar perceber exactamente o que o outro quis dizer nem sempre é fácil e pode requerer até a intervenção especializada, mas a verdade é que nenhuma relação conjugal sobrevive se não estiverem presentes algumas competências sociais.
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