Quando se fala em satisfação conjugal e sucesso nas relações amorosas fala-se invariavelmente na necessidade de combater a rotina. Nalguns casos, este combate é levado ao extremo – por exemplo, algumas reportagens procuram alargar o leque de alternativas para a realização de actividades; outros artigos dão-nos a conhecer estratégias mais ou menos eficazes para introduzir a inovação na intimidade do casal. A páginas tantas, são os próprios casais que atribuem a generalidade das suas dificuldades à “rotina do dia-a-dia”, como se fosse este o factor maioritariamente responsável pelo afastamento entre os cônjuges.
Mas se é positivo que as pessoas não se acomodem, que não dêem o outro como garantido, não é de todo verdade que as rotinas sejam negativas. De resto, a generalidade das pessoas precisa de alguns rituais (individuais ou familiares) para se sentir segura. Em que consistem estes rituais? São actividades mais ou menos previsíveis, com regras predeterminadas e que perduram no tempo. Estas rotinas dão-nos uma sensação de pertença, fazem com que nos sintamos conectados e promovem o compromisso. De um modo geral, todas as famílias precisam deste conforto. Mais do que isso: anseiam por estes rituais e sentem-se desiludidas se, por algum motivo, estes não puderem concretizar-se.
Para alguns casais, aquela horinha no final de cada dia, quando as crianças já estão deitadas, é uma rotina confortável. A oportunidade de conversar sobre o dia de trabalho e receber o apoio do cônjuge ao sabor de um copo de vinho ou de uma chávena de chá transforma-se facilmente num “vício”.
Quem não tem memórias positivas associadas as rituais familiares? Alguns lembrar-se-ão dos Natais à lareira, marcados pela oportunidade de rever a família alargada. Outros recordarão os jantares em família, em que cada um tinha oportunidade de falar sobre o seu dia. De resto, as investigações em Psicologia da Família mostram que nas famílias em que existem estes rituais diários à volta da mesa as crianças têm normalmente menos problemas de comportamento.
Além destes rituais que envolvem toda a família, existem outros, mais privados, como quando um casal escolhe fazer amor todos os Sábados de manhã, ficando na cama até mais tarde. Alguns queixar-se-iam de falta de espontaneidade; outros referir-se-ão a este ritual como imprescindível.
Até os rituais anuais, como as férias de Verão junto à praia, podem conferir-nos a segurança de que precisamos em relações de compromisso. Esta sensação de conexão é reconfortante e ajuda-nos a enfrentar os momentos mais duros que todas as relações amorosas acabam por atravessar.
Importa notar que os rituais individuais são tão importantes quanto estes rituais familiares. Algumas pessoas “precisam” de começar o dia com exercício físico, tal como outras “precisam” de se distrair em frente à televisão antes de enfrentar a cozinha para preparar o jantar. Outras procuram descomprimir no jantar de fim-de-semana com amigos ou no jogo de futebol à Quarta-feira, que implica que o cônjuge fique sozinho com as crianças. Se tivermos dificuldade em aceitar as necessidades individuais do nosso cônjuge, ser-nos-á mais difícil manter a harmonia familiar. Identificar as rotinas que promovem o nosso bem-estar implica estarmos mais atentos àquilo que, pela positiva, pode condicionar o bem-estar de toda a família.