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18.1.11

SURPRESA: PEDIDO DE DIVÓRCIO



São frequentes os pedidos de ajuda de pessoas que se vêem repentinamente confrontadas com uma proposta de divórcio e que, perante o choque que uma separação “sem aviso” provoca, se sentem confusas, incrédulas e, claro, desesperadas. Sendo sempre um processo avassalador, em que a sensação de perda e a frustração tomam conta do dia-a-dia dos envolvidos, o divórcio pode ser ainda mais difícil quando um dos membros do casal é apanhado de surpresa. Como é que se reage à frase “Acho que é melhor separarmo-nos” se há bem pouco tempo se falava em fazer uma viagem romântica? Como é que uma mulher gere o pedido de divórcio se este surge poucos dias depois de um gesto carinhoso em que o marido a pega ao colo antes de entrarem em casa? Como é que um homem encara a separação depois de terem falado em ter um filho? O que quererão dizer estas mensagens tão díspares? Como é possível que num dia alguém se mostre aparentemente comprometido e, no dia seguinte, assuma, cheio de certezas, a vontade de se divorciar?

Ao contrário do que se possa pensar, este não é um fenómeno raro. Na verdade, só uma abordagem superficial permite encarar a possibilidade de alguém mudar repentinamente os seus sentimentos. À medida que o tempo passa e os membros do casal assumem diferentes responsabilidades, têm a oportunidade de continuar a crescer… juntos ou não. Não raras vezes, e até em função do facto de estarem demasiado absorvidos pelo papel parental e pelas múltiplas funções que desempenham no dia-a-dia, esse crescimento deixa de ser partilhado, as pessoas deixam de se sentir verdadeiramente conectadas e o tempo passa, sem que as dificuldades sejam encaradas de forma séria.

Mas se os problemas estavam “lá”, como é que o cônjuge que agora se sente abandonado não os viu? Estaria louco(a) ao ponto de acreditar que tinha um casamento quase perfeito e sem problemas particularmente graves? Não será mais plausível acreditar, por exemplo, na hipótese de o cônjuge que agora pede o divórcio estar deprimido? Não será esta separação um impulso, uma tentativa desesperada para resolver problemas de outra ordem? Não poderá o stress profissional estar na origem deste gesto abrupto? É compreensível que uma pessoa em choque procure encontrar explicações para a perda com que subitamente se vê confrontada. Infelizmente, esta reacção é também demonstrativa da natureza das dificuldades do casamento – a incapacidade para validar as queixas do cônjuge. De um modo geral, os “sinais” estiveram sempre lá, ainda que tenham sido ignorados. É por isso que um olhar mais profundo sobre o percurso do casal permite perceber que, afinal, a surpresa não faz assim tanto sentido, ainda que o cônjuge que agora abandona o barco possa ter emitido mensagens ambivalentes.

A que sinais me refiro? Existem, de facto, alguns indicadores de que há problemas sérios numa relação amorosa:

  1. Diminuição dos gestos de afecto. É normal que um casal atravesse períodos de maior afastamento, como é normal que haja períodos em que a intimidade sexual é pouco frequente. Mas é preocupante que se passem semanas (ou meses) sem que os membros do casal expressem claramente o seu afecto através de abraços, beijos, conversas íntimas, brincadeiras e outros mimos. É a diminuição desta espontaneidade que constitui um alerta importante.
  2. Silêncios constrangedores. Não há nada melhor do que sentirmo-nos confortáveis com o silêncio na presença de alguém de quem gostamos – é agradável saber que podemos estar “agarradinhos” sem dizer nada. Mas é penoso lidar com os silêncios “estranhos”, especialmente quando pelo menos um dos membros do casal se sente triste aparentemente sem razão.
  3. Aumento da vontade de estar longe de casa. Todos nós já tivemos de trabalhar até mais tarde, sem que daí resultassem problemas sérios para a relação conjugal. De um modo geral, expressamos as nossas saudades e procuramos usufruir da companhia daqueles que amamos. Quando o cônjuge passa a ter de fazer serões muito mais vezes, quando o trabalho ou qualquer outra actividade passa a roubar demasiado tempo à relação, há razões para alarme.
  4. Quando um quer discutir e o outro não. Há alguns padrões de comunicação alarmantes e este é um deles. Quando um dos membros do casal parece querer discutir quase sempre sobre o mesmo assunto e o outro se fecha sobre si mesmo, evidenciando a vontade de estar sozinho, de se livrar “daquilo”, a relação está claramente em perigo.
  5. Desvalorização do sexo. O sexo não é tudo na vida. Mas se um dos membros do casal insistir em desvalorizar as queixas do outro, agarrando-se à ideia de que uma relação é muito mais do que a intimidade sexual, a relação corre sérios riscos. São frequentes os casos em que as queixas dão lugar à irritabilidade e esta dá progressivamente lugar à apatia, que acaba por ser confundida com concordância. Se o cônjuge deixou de se queixar, não é porque deixou de dar importância ao sexo – é porque começou a desistir. De resto, esta premissa é válida para as queixas noutras áreas da conjugalidade.
De um modo geral, o cônjuge que decide pedir o divórcio expressa o cansaço e a frustração por não ter visto as suas necessidades serem atendidas, apesar das múltiplas tentativas para discutir o assunto. A pessoa queixa-se por não ter sido ouvida, sente-se alienada e, por norma, irritada.

Infelizmente, conheço alguns casos em que o casamento está a morrer aos poucos, ainda que só um dos membros do casal se aperceba do que está a acontecer.
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