Tal como nem todas as pessoas acham graça à ideia de terem de estar felizes e entusiasmadas na passagem do ano, como se fosse obrigatório estar radiante nesta data, há quem se sinta repugnado pela ideia subjacente ao dia dos namorados, considerando-a uma operação de marketing feita para gastar dinheiro e banalizar o amor romântico. Mas há quem valorize a data, quem goste de a comemorar cumprindo todos os rituais e também há quem gostasse de o fazer mas tenha “desaprendido” com a passagem do tempo, como se os anos de compromisso fossem directamente proporcionais à perda do espírito romântico.
As pessoas que estão casadas/ juntas há muito tempo sabem que a intensidade que caracteriza os primeiros tempos de namoro ou de casamento vai dando lugar a emoções mais serenas com demonstrações de afecto menos apaixonadas. À medida que nos sentimos mais seguros na nossa relação, a atenção que antes dedicávamos quase de forma exclusiva ao nosso parceiro vai-se dispersando para outras pessoas e actividades. Nalguns casos, a mudança é tão intensa que se cria entre os membros do casal uma certa acomodação e os afazeres mundanos do dia-a-dia substituem totalmente os gestos românticos. Noutros casos, quando as crianças nascem o foco transfere-se totalmente para elas. Mas não tem de ser assim.
Claro que não acredito que a comemoração do dia dos namorados constitua uma oportunidade de reconexão e muito menos de reacendimento de paixões que estão há muito tempo apagadas. Mas esta é uma oportunidade para que os membros do casal saiam um pouco da sua rotina e, caso se sintam motivados, voltem a experimentar a satisfação de um programa a dois. Isso implica esforço e, em certa medida, dinheiro. Mas também é possível celebrar a data sem a rigidez associada aos restaurantes caros, flores e vinho topo de gama.
O dia dos namorados pode implicar a oportunidade para parar e pensar na forma como estamos (ou não) a demonstrar o nosso afecto e a nossa paixão à pessoa que escolhemos para estar ao nosso lado. Mais uma vez, as coisas podem não ser simples. Para alguns casais, até pode ser arriscado tentar mudar alguma coisa neste dia, mostrando-se fisicamente mais românticos, por exemplo. Porquê? Porque se a relação estiver a passar por um período de esmorecimento estes gestos podem não só não ser correspondidos como ainda originar uma resposta sarcástica do tipo “Hoje lembraste-te que eu existo? Deves querer alguma coisa…”, potenciando a rejeição e o distanciamento entre os membros do casal.
O dia dos namorados é só uma data. O mais importante é interiorizar que qualquer altura do ano é óptima para fazer uma pausa, reflectir sobre o estado da relação, dialogar e implementar esforços que permitam que a Internet, a televisão e todas as outras distracções que nos permitem evadir das preocupações possam ser substituídas, pelo menos de vez em quando, por gestos que nos devolvam o sentimento de pertença a um projecto maior. Quando o nosso cônjuge é visto como a nossa prioridade, tudo muda. Não é preciso ir ao restaurante mais “in” nem comprar um bouquet caríssimo. Uma refeição partilhada à lareira pode transformar-se no momento mais romântico de sempre desde que as pessoas se sintam conectadas.