Se há algo de negativo associado à difusão de informação clínica através da Internet, é o facto de tantas pessoas cederem à tentação do autodiagnóstico ou, pior ainda, à tentação de elaborar diagnósticos em relação a quem está à sua volta. Qualquer médico já foi confrontado com doentes que teimam em contrariar a informação que lhes é dada porque pesquisaram na Internet e “sabem” exactamente que doença os acomete. Em Psicologia isto também é verdade e a doença que mais frequentemente “aparece” é a perturbação bipolar – algumas pessoas temem padecer desta perturbação, outras apontam o dedo ao parceiro na esperança de que este rótulo explique alguns comportamentos. Com pouca e, sobretudo, imprecisa informação, é aparentemente fácil confundir-se flutuações de humor com perturbação bipolar.
Se é verdade que aquilo que caracteriza a perturbação bipolar são as súbitas e intensas mudanças de humor, importa clarificar este conceito, sob pena de a utilização abusiva destes rótulos potenciar equívocos sérios. Tal como quando falamos de tristeza nem sempre falamos de depressão, também neste caso o diagnóstico depende da severidade dos sintomas, sendo que na perturbação bipolar, às vezes chamada de perturbação maníaco-depressiva, as flutuações de humor vão desde a depressão profunda até às crises de mania. Nalguns casos estas oscilações ocorrem poucas vezes por ano, noutros podem surgir até várias vezes por dia.
As fases de mania são caracterizadas por:
- · Humor anormalmente elevado;
- · Raiva ou irritabilidade;
- · Pensamento e fala demasiado acelerados (ao ponto de o discurso ser desconexo);
- · Saltar de assunto em assunto;
- · Comportamentos de risco;
- · Poucas horas de sono (o doente não precisa de dormir quase nada).
Nas fases de depressão há:
- · Tristeza e apatia (desinteresse pelas coisas que antes geravam entusiasmo);
- · Ansiedade, culpa, desespero e choro;
- · Alterações significativas no apetite e no peso corporal;
- · Ideação suicida.
Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa mas existem critérios rigorosos que permitem o diagnóstico rigoroso de uma das 3 formas de perturbação bipolar:
· Perturbação bipolar tipo I – Existe um ou mais episódios de mania.
· Perturbação bipolar tipo II – Não existe nenhum episódio de mania mas existe um ou mais episódios de hipomania e um ou mais episódios de depressão grave. Os episódios de hipomania não são tão extremados como os de mania (não causando prejuízo social grave nem psicose) caracterizando-se sobretudo por períodos de humor anormalmente elevado e sendo muitas vezes confundidos com períodos de alta produtividade.
· Ciclotimia – História de episódios de hipomania com períodos de depressão leve a moderada.
Não existindo nenhuma “cura” para esta perturbação, existem alguns recursos que se manifestam úteis no controlo da sintomatologia. Para além da medicação antidepressiva e antipsicótica, o apoio psicológico ao doente e à família é fundamental. Nas crises graves pode ser necessário o tratamento hospitalar.