Tal como já tenho explicado aqui, não raras vezes os pedidos de ajuda em terapia conjugal acontecem numa fase muito tardia, quando as feridas estão expostas há demasiado tempo, tornando a intervenção terapêutica bem mais difícil. É verdade que já fui surpreendida por casais que iniciaram o processo terapêutico com muito ressentimento e que foram capazes de dar a volta mas tenho de assumir que, tal como acontece com a nossa saúde física, as probabilidades de sucesso na terapia conjugal aumentam quando o pedido de ajuda é feito numa fase inicial. Claro que não é expectável que os casais recorram à ajuda psicológica a cada discussão mas tão pouco faz sentido que a terapia seja apenas equacionada quando um dos membros do casal já está emocionalmente desligado.
Uma vez iniciado o processo, os membros do casal são desafiados a olhar para as suas dificuldades de um ponto de vista diferente. Muitas vezes é preciso abandonar a perspectiva de que existe uma vítima e um culpado. Salvo nas situações de violência (física ou emocional), não faz sentido olhar para os problemas desta forma. É verdade que em muitos casos a comunicação está de tal modo deteriorada que existem excessos de linguagem e críticas intensas. Como a pessoa que é alvo destes abusos nem sempre reconhece o que está a acontecer, acaba por retrair-se afastando-se do cônjuge do ponto de vista sexual e emocional. Em terapia é possível abandonar estes padrões comportamentais e aprender a definir barreiras ajustadas, que imponham o respeito mútuo.
Às vezes o terapeuta conjugal tem de gastar algum tempo com o cônjuge que é habitualmente mais agressivo, o que nem sempre é bem aceite pelo cônjuge que se sente agredido. A verdade é que para que o processo terapêutico seja bem-sucedido é preciso motivar os dois membros do casal. Como a pessoa mais agressiva é normalmente mais resistente à mudança, é preciso trabalhar no sentido de se sentir ouvida. Só depois se pode investir na aquisição de competências que permitam a exteriorização ajustada dos sentimentos. Refiro-me à gestão e controlo da raiva.
Alguns pacientes ambicionam eliminar por completo os conflitos da sua relação. Ainda que seja compreensível, este desejo é irrealista. O que é preciso – para que ambos se sintam seguros - é que se adquiram competências que permitam a resolução de conflitos. Ao terapeuta conjugal compete ajudá-los a comunicar de forma assertiva, a identificar as necessidades e os sentimentos envolvidos e a definir limites para que as discussões não se transformem em lutas.
Muitas vezes é preciso perceber em que medida é que o passado afectivo de cada um dos membros do casal pode estar a influenciar a conjugalidade. Quando pelo menos um dos membros do casal é muito reactivo aos comportamentos do outro é possível que esteja aprisionado a vulnerabilidades antigas que requeiram o apoio individual. Se existirem traumas antigos, é preciso falar sobre essas experiências em sede de terapia para que o companheiro possa percebê-las, empatizar com elas e baixar as defesas. Na prática, acabamos por ser solidários quando percebemos que a fúria do cônjuge está mais directamente relacionada com o seu passado emocional do que com a vontade de nos atacar. Em suma, a terapia de casal pode ajudar a olhar para o cônjuge como alguém que está vulnerável e não como um adversário.