Poucas pessoas podem dar-se ao luxo de dizer que nunca tiveram qualquer contacto com a depressão. Nem todas sofrem ou sofreram da doença mas terão pelo menos um familiar, um amigo ou um conhecido que está ou já esteve nessa circunstância. Felizmente, o assunto há muito que deixou de ser tabu, pelo que a generalidade de nós está familiarizado com os sintomas clínicos desta perturbação. E se é verdade que continua a existir algum estigma em relação à doença mental, também se pode afirmar que os portugueses estão mais sensíveis e empáticos em relação à epidemia do século XXI. É com agrado que me apercebo, por exemplo, da existência de empregadores que estimulam os seus funcionários a pedir ajuda clínica quando se apercebem que há o risco de aquela pessoa estar deprimida. Tal como me agrada perceber que muitas das pessoas que me pedem ajuda fazem-no porque foram incentivadas por alguém próximo, que teve a preocupação e o cuidado de dizer "Precisas de ajuda".
Mas nem tudo são rosas no que diz respeito à relação da pessoa que está deprimida com aqueles que a rodeiam. Os familiares e amigos podem até reconhecer a sua impotência na ajuda que querem prestar, podem ser tolerantes em relação a episódios que traduzam níveis elevados de irritabilidade (não é só a tristeza e o choro que caracterizam esta perturbação de humor), mas é-lhes progressivamente mais difícil conviver com a apatia e o pessimismo generalizado do doente. Muitas vezes o familiar ou o amigo que costuma estar "lá" para amparar e dar força também perde a calma. Quando "salta a tampa" podem ser proferidas frases como "Tens de reagir" ou "Não podes estar sempre a pensar nisso", que, embora sejam fruto do cansaço legítimo, podem ferir alguém que, estando doente, não depende da motivação ou da força de vontade para melhorar.
Ninguém pode ser psicólogo, médico e assistente social de um familiar ou amigo deprimido. Podemos ser cuidadores, podemos estar lá para amparar, mas todos temos limites. Quando uma pessoa, que ainda por cima não tem formação em saúde mental, procura fazer mais do que está capaz, acaba invariavelmente por cansar-se, ser brusca e mostrar-se saturada com o pessimismo do doente.
De facto, não é nada fácil conviver regularmente com alguém que olha para a vida de forma negativa, alguém cujo pensamento está distorcido e, em função disso, passa muito mais tempo a criticar o mundo do que a apreciá-lo. É por isso que não raras vezes é recomendável o acompanhamento psicológico aos familiares da pessoa a quem foi diagnosticada a depressão. Nem todos os cônjuges ou filhos da pessoa deprimida precisarão deste apoio. Mas se a porta estiver aberta, é mais fácil evitar que os cuidadores também se deprimam.
Quanto aos colegas e amigos do doente, que tantas vezes se afastam por cansaço e desesperança, importa passar a mensagem de que a pessoa deprimida também precisa do seu incentivo e das suas chamadas de atenção. Os amigos não são ansiolíticos nem podem servir de saco de pancada. Mas podem (e devem) manter-se por perto, expressar a sua preocupação, a sensação de impotência que os assola e a importância do recurso à ajuda clínica.