Não se pode exigir que as crianças não se entristeçam com a separação dos pais nem será razoável querer fazer escolhas que lhes permitam passar por todo o processo incólumes. Afinal, os adultos também sofrem, mesmo quando o divórcio resulta da assunção de que já não estão felizes juntos. Que as crianças se entristeçam é, por isso, normal. Com o apoio e a segurança dos pais essa tristeza será ultrapassada e dará lugar à adaptação a uma nova realidade, à estabilidade emocional e até, a prazo, à capacidade de ser feliz com a reconstrução familiar de cada um dos progenitores. O que não é saudável é que o divórcio implique que as crianças sejam forçadas a separar-se de um dos progenitores. Seja em que circunstância for, os pais podem e devem fazer TUDO o que estiver ao seu alcance para garantir que os seus filhos continuem a sentir-se amados e acompanhados por ambos. Ora, isso também passa por permitir que as crianças estejam tanto com a mãe como com o pai. Numa altura em que a informação está cada vez mais acessível e em que os pais e mães dão o seu melhor para se manterem informados a respeito das escolhas mais saudáveis para a educação dos seus filhos faz pouquíssimo sentido que se continue a acreditar que as crianças ficam melhor se estiverem à guarda da mãe.
A guarda partilhada, mesmo quando as crianças são pequenas, não é uma moda nem um capricho de pessoas que batalham pela inovação. Trata-se de uma escolha que traduz aquilo que a investigação em Psicologia da Família também mostra: as crianças sofrem mais com quando têm de viver a maior parte do tempo longe do pai do que quando o seu tempo é dividido entre os dois lares.
É, por isso, com alguma preocupação que assisto a situações clínicas em que um dos progenitores opta por viver com os seus filhos a centenas de quilómetros do ex-companheiro. Bem sei que depois do divórcio há pessoas que têm de reconstruir a sua vida praticamente do zero e que isso pode implicar mudanças sociais e profissionais profundas. Mas é preciso que o papel de pai/ mãe seja realmente encarado como prioritário e que as escolhas traduzam a vontade de continuar a dar aos filhos o melhor - quer em termos físicos/ materiais, quer (sobretudo) em termos emocionais.
Fazer sacrifícios em nome do superior interesse das crianças não é sempre fácil nem óbvio mas é a escolha emocionalmente mais inteligente de pais que se espera que sejam tão altruístas e descentrados quanto possível. Querermos as nossas crianças sempre connosco é normal, mas é preciso que, em caso de divórcio, reconheçamos que elas merecem estar com o pai tanto quanto com a mãe. O sofrimento dos adultos não deve mascarar o real interesse pelo bem-estar dos filhos.