Então, porque olhamos para a imprensa e para a televisão e ficamos com a sensação de que quem por lá aparece tem vidas mais preenchidas, mais realizadas? Os rostos aparecem quase sempre luminosos, os sorrisos não indiciam a existência de dificuldades sérias nem preocupações mundanas como aquelas com que diariamente nos confrontamos. Enquanto ouvimos alguém referir-se ao resultado do seu último trabalho ao mesmo tempo que deitamos um olhar na imagem imaculada que a TV nos transmite não conseguimos evitar o pensamento "Porque é que há pessoas com vidas tão melhores do que a minha?".
Depois, no trabalho ou no café trocamos palavras com conhecidos que se afiguram tantas vezes como símbolos de tranquilidade, segurança e bem-estar. Detemo-nos sobre aquilo que reluz e consideramos que os outros têm muitas vezes a vida mais facilitada. Parece que tudo lhes corre bem. Ainda que não nos consumamos com a dor de cotovelo, deprimimo-nos por pensar que somos inferiores à média, temos familiares e amigos que não são tão interessantes e solícitos como os outros, o nosso percurso profissional e o rendimento que auferimos estão muito abaixo do que as pessoas que nos rodeiam mostram ter.
Assim, é fácil estar sistematicamente na mó de baixo. Enquanto nos centramos no que brilha na vida alheia esquecemo-nos do essencial: a nossa vida é o produto das nossas escolhas. Sermos felizes hoje depende da seriedade que aplicarmos a essas escolhas e da capacidade para dar o nosso melhor. A competição tem de ser interna - sentir-nos-emos tão realizados quanto mais formos capazes de nos focalizar na entrega, na perseverança e no melhoramento das nossas competências. Para que eu seja feliz, é preciso sentir que dei o meu melhor, que me entreguei, lutei, cresci. As comparações em que devo centrar-me dizem respeito ao meu percurso, à minha evolução e não à análise superficial do que está à minha volta.
As pessoas que definem com clareza e objectividade as suas metas e os seus sonhos estão mais preocupadas com os esforços que terão de fazer para os atingir do que com as conquistas e realizações dos outros.
Parece óbvio, mas continuo a deparar-me diariamente com pessoas que são incapazes de dar graças por aquilo que têm e/ou olhar para o seu percurso com rigor e orgulho. Detêm-se demasiadas vezes naquilo que supostamente seria esperado que tivessem atingido, desvalorizando o próprio mérito, os obstáculos enfrentados (e contornados) e as vitórias alcançadas. No meio desta análise distorcida permitem que algumas ilusões condicionem o seu bem-estar e adiam ad eternum a sua felicidade.