Estas questões parecem-me ainda mais pertinentes quando sou confrontada com ideias preconcebidas, baseadas num ou noutro caso real, e que defendem que o casamento pode destruir uma relação. As pessoas que abordam o assunto desta forma estão a ser sinceras quando afirmam "Conheço alguém que namorou durante 10 anos, casou e separou-se em menos de um ano". Só não estão a ser rigorosas quando pressupõem que foi a oficialização da relação que desencadeou a ruptura.
Do meu ponto de vista, continuam a celebrar-se casamentos a mais. O que quero dizer é que há ainda uma fatia considerável da população que casa pelos motivos errados e, quando isso acontece, a probabilidade de as coisas correrem mal é naturalmente maior. É verdade que vivemos sob o primado do amor, o que significa que a maior parte das pessoas escolhe casar com a pessoa que ama e acredita que poderá ser efectivamente feliz. Mas algumas destas pessoas não possuem a inteligência emocional necessária para fazer escolhas sensatas no momento certo. Algumas (muitas) pessoas precipitam-se e acabam por casar sem que haja, dentre outras coisas, um conhecimento mútuo profundo. Desenganem-se os leitores que pensem que estou a referir-me apenas aos casais que decidem oficializar a relação ao fim de 3 meses de namoro. Depois de mais de 10 anos a trabalhar em terapia de casal, posso afirmar com segurança que há um número assustador de pessoas que não conhecem a pessoa com quem estão prestes a casar. Conhecem-lhes as manhas, os gostos, os sonhos, as rabugices e até alguns problemas mas, muitas vezes, desconhecem as verdadeiras feridas emocionais, as vulnerabilidades, a forma como o outro gere o dinheiro, aquilo de que precisa para se sentir conectado do ponto de vista emocional e por aí fora.
Os casos mais frequentes de casamentos que acabam pouco tempo depois de começar têm em comum a circunstância de o casamento constituir uma tentativa de dar uma lufada de ar fresco à relação. O passo, que continua a ser visto como romântico, é uma tentativa de dar sentido a uma relação que está estagnada. Os membros do casal estão acomodados, confortáveis até, mas não se sentem propriamente vivos e entusiasmados com o projecto que deveriam estar a construir. Claro que esta insatisfação não é consciente, pelo que não podemos propriamente falar de erros grosseiros. Podemos, isso sim, falar de brechas importantes ao nível da inteligência emocional.
É natural que nos sintamos mais seguros quando temos alguém ao nosso lado mas o casamento deve constituir um passo que só é dado quando há a profunda convicção de que é com aquela pessoa que queremos construir alguma coisa de muito significativa.