A generalidade das mulheres na sociedade actual tem a ambição de construir uma carreira e isso não era tão comum há 30 ou 40 anos. Mas, a par dessa e outras mudanças demográficas, a maior parte das mulheres continua a seguir os passos das gerações anteriores, cumprindo as mesmas etapas do ciclo de vida. Independentemente da formalização das relações e das novas formas de família, continuamos, em geral, a preferir uniões estáveis, que dêem origem àquilo a que chamamos de núcleo familiar. E continuamos - com algumas excepções - a desejar ter filhos e proporcionar-lhes uma família estável.
Nesse sentido, a caminhada que cada casal faz contém elementos comuns, dificuldades que são partilhadas pela maioria da população, ainda que, quando as vivenciamos, nos pareçam exclusivas.
Salvo honrosas excepções, os casais com quem trabalho referem-se quase sempre a um período em que as lutas de poder vieram à tona, empurrando-os para processos de negociação mais ou menos desafiantes.
Para alguns, as dificuldades maiores surgem ainda durante o namoro, o que os deixa em vantagem. Quando as diferenças relativas à gestão do dinheiro, às tarefas domésticas ou às fronteiras com a família de origem são expostas durante o namoro, cada um pode arrefecer as ideias na própria casa no final da discussão. Entre amuos, expectativas goradas e a necessária adaptação a tudo o que o outro (não) é, torna-se mais fácil crescer do ponto de vista emocional quando há tempo e espaço para que cada um reflicta sobre aquilo que quer (e não quer) para si.
O namoro é (ou deveria ser) um período de aprendizagem, de aprofundamento do conhecimento mútuo, e de crescimento a dois. Nesse sentido, os "encontrões" são parte do processo e podem contribuir para a solidez das escolhas.
Não é expectável que, na altura em que duas pessoas decidem casar ou viver juntas saibam tudo uma da outra e já tenham feito um curso intensivo de gestão de conflitos. Mas é saudável que uma parte significativa das diferenças que separam os membros do casal sejam conhecidas e que existam competências para as gerir.
Quando isto não acontece, é natural que os primeiros tempos de vida a dois (coabitação) sejam muito marcados por desavenças mais ou menos superficiais mas com capacidade para levar os membros do casal a duvidar da sua escolha. Estes trambolhões são normais e não têm de implicar o fim do projecto a dois. De facto, são muitos os casais que se referem ao primeiro ano de vida debaixo do mesmo tecto como um annus horribilis. Alguns lembram-se desta etapa do ciclo de vida com humor, outros com alguma pena, mas na maior parte dos casos houve lugar a aprendizagens, cedências e reconhecimento de que, quando há amor, para que ambos ganhem, ambos vão ter de perder nalguma medida.
O exemplo clássico de frustração diz respeito à ideia utópica de que na vida a dois ninguém terá de mudar. De facto, pensarmos que podemos ser felizes ao lado de alguém sem que tenhamos de mudar nada no nosso comportamento e sem que sintamos necessidade de reivindicar mudanças no comportamento da pessoa amada é uma das ideias mais românticas que podem existir mas que, tanto quanto sei, só é exequível nos filmes.
Há um momento em que o ritmo da outra pessoa choca com o nosso, as roupas de um espalhadas pelo chão mexem com os nervos do outro ou o hobby dela interfere com as tentativas dele de promover saídas a dois… Como não há duas pessoas iguais, o conflito é inevitável. Nas relações bem-sucedidas estes conflitos são apenas a transição para uma união mais estável.