O tempo que passamos a trabalhar
permite até que muitas vezes os nossos colegas de trabalho sejam os primeiros a tomar conhecimento de
notícias importantes – tanto pela positiva, como pela negativa. Porque são eles
que estão literalmente ao nosso lado quando recebemos um telefonema a avisar
que um bebé acaba de nascer; porque são eles que nos vêem logo de manhã com
cara feia porque acabámos de receber a notícia do adoecimento de um familiar. E
no meio da azáfama diária podem
passar-se meses sem que nos lembremos ou tenhamos o cuidado de partilhar
com aqueles a quem chamamos de amigos os acontecimentos mais significativos por
que vamos passando.
Como a amizade também é feita de
proximidade, de investimento regrado e de apoio emocional real, as pessoas com quem trabalhamos podem
tornar-se verdadeiros amigos. Ou, mesmo que não nos sintamos
suficientemente próximos para conseguirmos chamá-los de amigos, podem tornar-se
fontes de apoio importantes em momentos cruciais.
É isso que verifico em contexto
clínico quando alguém me diz que, em função do processo de divórcio por que
está a passar, tem sentido a solidariedade dos colegas de trabalho e reconhece
naquelas pessoas a vontade genuína de “estar
lá” e participar no que for preciso para ajudar a minimizar a dor; ou
quando alguém diz que as pessoas com quem trabalha foram cruciais para manter a
motivação e a esperança durante uma situação de doença.
Nem sempre é fácil reconhecermos
nas pessoas com quem trabalhamos competências sociais que permitam que olhemos
para elas também como pessoas afectivamente importantes, tal como nem sempre é
fácil descomprimirmos e olharmos para os nossos colegas como pessoas divertidas
e bem-humoradas. A ligação afectiva aos colegas de trabalho e aos superiores
hierárquicos está obviamente condicionada pela sucessão de deveres, prazos a
cumprir, decisões a tomar e outras fontes de stress inerentes ao quotidiano
profissional.
Mas não é por acaso que de vez em
quando ouvimos falar na excelência do ambiente de trabalho em empresas como a
Microsoft ou a Google. Também não é por acaso que estas e outras empresas
promovem com regularidade encontros entre os trabalhadores e as suas famílias
em ambientes lúdicos. A verdade é que estas grandes organizações perceberam há
muito tempo que, quanto mais satisfeitos
estiverem os seus colaboradores, melhor será o seu desempenho.
Ainda que não trabalhemos numa
grande organização, há competências que podemos e devemos treinar no sentido de
promover laços saudáveis com as
pessoas com quem trabalhamos. Quando damos o nosso melhor no sentido de
garantir que os nossos colegas olhem para nós como pessoas honestas, confiáveis
e disponíveis, aumenta a probabilidade de também olharmos para eles como fontes
de suporte emocional. E esta segurança é ainda mais importante numa altura em
que surgem dados de um estudo realizado por especialistas em comportamento
organizacional que dão conta de que as
pessoas que referem ter baixo apoio social no trabalho morrem mais cedo.
Surpreendentemente ou não, segundo este estudo, a falta de apoio emocional no
trabalho levou a um aumento de 140% de risco de morte em comparação com aqueles
que relataram sentir apoio dos colegas de trabalho.