Poderia alongar-me sobre as
vantagens que o Facebook representa para a relação, mas já o fiz num dos
capítulos do livro. Opto hoje por explicar que, tal como não passa pela cabeça
da maior parte das pessoas proibir o cônjuge de usar o telemóvel, não faz
sentido tentar proteger a relação através da fuga ou do isolamento social. O
Facebook é SÓ uma via de
comunicação. Os erros que possamos cometer ao fazer uso deste recurso são da
nossa exclusiva responsabilidade.
Perguntar-me-ão "mas se o
Facebook nos coloca em linha directa com pessoas potencialmente interessantes, não é um facilitador das relações
extraconjugais?". Em certa medida sim, tal como o é o facto de
estarmos rodeados de pessoas no ginásio ou no local de trabalho. A partir do
momento em que socializamos - seja pela via virtual, seja presencialmente -
temos oportunidade de nos revelar e de conhecer pessoas que, no limite, podem parecer-nos
muito mais interessantes do que aquela que está ao nosso lado. Mas a verdade é
que a conexão emocional e os laços que se criam numa relação amorosa feliz são
normalmente suficientes para que consigamos apreciar outras pessoas sem que nos
sintamos tentados a cometer erros que nos coloquem em risco de perder a pessoa
amada.
Há um verso de uma canção
celebrizada por Caetano Veloso que diz "Quando a gente ama é claro que a
gente cuida" e que resume bem aquilo que quero dizer. Quando uma relação é
uma fonte de bem-estar e de segurança, quando nos sentimos realmente ligados
àquela pessoa, fazemos o que estiver ao nosso alcance para a proteger. E fazemo-lo
em todos os contextos. Quando damos por
nós a querer passar mais tempo fora de casa e/ou ao computador,
desvalorizando a companhia da pessoa que escolhemos para ser "a tal",
então o nosso alarme interno deve soar
porque há provavelmente lacunas importantes na relação que, mais cedo ou mais
tarde, podem surgir, de entre outras formas, através da utilização danosa do
Facebook.
Quando um dos membros do casal se
recusa a utilizar esta rede social, mesmo que não proíba o outro de o fazer,
também pode correr riscos. Uma das "marcas" das relações felizes e
duradouras é a criação de rituais familiares em que, normalmente ao final do
dia, cada um tem oportunidade de falar sobre aquilo que viveu ao longo do dia. Por que há-de alguém esquivar-se às novas
plataformas de comunicação criando, assim, potenciais assuntos tabu? Se o
meu cônjuge se interessa por uma nova ferramenta de comunicação, que ainda por
cima passa a dominar muitas das conversas "reais", não será uma
escolha emocionalmente muito inteligente fazer finca-pé pela resistência à
inovação.
Infelizmente já fui várias vezes
confrontada com casos de pessoas que se sentiram enganadas porque acordaram com
o parceiro que nenhum dos dois teria conta no Facebook e, mais tarde, um veio a
descobrir que o outro tinha criado um
perfil às escondidas. Tê-lo-á feito com o intuito de ser infiel?
Provavelmente não. Provavelmente optou por ocultar uma escolha para evitar
problemas, acabando por criar inseguranças maiores.
Aquilo para o qual procuro chamar
a atenção é precisamente a necessidade de os membros do casal melhorarem as
suas competências em termos da comunicação no sentido de se sentirem seguros e
livres para fazer escolhas assertivas. A fuga, isto é, a passividade acaba,
quase sempre mal.