É sabido que o início de uma relação amorosa é marcado por uma
certa cegueira em relação ao que há de negativo no comportamento da pessoa
amada. Ao mesmo tempo, o facto de estarmos apaixonados faz com que procuremos
camuflar ou, pelo menos, minimizar os nossos próprios defeitos e limitações.
Estas estratégias são normais e, até certo ponto saudáveis, na medida em que
não se tratam de actos maquiavélicos para mascarar a realidade e/ou tentativas
de enganar o outro. São meros mecanismos de defesa de quem está apaixonado e
não quer perder a pessoa amada. À medida que a relação evolui e os membros do
casal se sentem progressivamente mais seguros, cresce a necessidade de se
exporem de forma mais completa, mais real, menos utópica. Na prática, sentimos
a necessidade de ser aceites pela pessoa que amamos e isso também passa por
perceber que ele/ela é capaz de conviver com o nosso lado menos positivo.
Nenhum de nós é perfeito e, ainda que seja saudável que tenhamos a ambição de
evoluir e livrar-nos de características e hábitos negativos, importa que
tenhamos a consciência de que jamais
seremos tudo aquilo que o outro gostaria que nós fôssemos e, sobretudo, que
a pessoa que amamos também tem defeitos que permanecerão para o resto da vida.
À parte falhas de carácter e comportamentos que comprometam o nosso bem-estar,
é quase certo que, se quisermos viver
uma relação duradoura, teremos de conviver com algum tipo de limitações.
A verdade é que todos nós cometemos erros sérios e todos temos uma
ou outra característica de personalidade que nos torna, aos olhos dos outros,
pessoas difíceis ou com um certo "mau-feitio". Viver uma relação
emocionalmente saudável não significa ter ao nosso lado alguém que nunca erra
ou que não tem defeitos sérios. Mas também não pode corresponder a sermos
condescendentes com características e hábitos que comprometem a nossa
felicidade.
Ser-se emocionalmente inteligente no amor romântico é perceber
que, se não existem pessoas perfeitas, há
defeitos com que conseguimos conviver e há outros que são incompatíveis com
aquilo que queremos para nós, para o nosso projecto de vida.
Quando as máscaras começam a cair e os membros do casal se dão a
conhecer e se entregam sem reservas surgem níveis mais elevados de intimidade e
segurança mas também alguns conflitos, lutas de poder e processos de
negociação. Crescer (do ponto de vista conjugal) passa por discernir sobre
aquilo que conseguimos tolerar, aprender a ceder e reconhecer que ainda que
existam pessoas sem os defeitos e limitações do nosso cônjuge, essas pessoas
terão outras imperfeições, ainda que, à primeira vista, não sobressaiam tanto.