Como a satisfação sexual conta (e muito) para a satisfação
conjugal, o sexo pode funcionar como um barómetro
do casamento. Daí que seja muitas vezes só na altura em que os problemas
chegam à intimidade sexual que os membros do casal optam por recorrer à ajuda
especializada.
Como tenho afirmado tantas vezes, as relações amorosas não são
feitas apenas de intimidade sexual, pelo que para que o saldo seja positivo
nesta área da conjugalidade é preciso que ambos invistam na intimidade
emocional, alimentando a relação, cuidando das necessidades afectivas do
cônjuge. Quando as pessoas se esquecem de o fazer e tomam o cônjuge como garantido, prestando-lhe muito menos atenção,
mostrando muito menos disponibilidade e interesse genuíno pelas suas conquistas
e preocupações, o distanciamento acaba por reflectir-se em termos sexuais. Depois de quatro ou cinco anos de vida a
dois há muitas pessoas que se queixam porque o sexo passou a ser monótono, sem
graça – a chama desapareceu.
De um modo geral, esta quebra na satisfação sexual tem muito mais
de psicológico do que de físico. Na maior parte dos casos que tenho acompanhado,
por detrás das queixas de “mau sexo”
estão conflitos mal resolvidos, divergências sérias que se estendem no tempo, mágoa
e ressentimento a respeito de assuntos tão variáveis quanto a gestão do
dinheiro, a educação das crianças, a relação com a família de origem ou a inexistência
de refeições em família. Quando pelo menos um dos membros do casal não se
sente ouvido ou compreendido – pelo contrário, sente-se desamparado,
negligenciado -, estão reunidas as condições para que a chama comece a
desaparecer. Claro que à medida que a frustração e a raiva se juntam à
diminuição da frequência e satisfação sexual os membros do casal sentem-se cada
vez mais distantes.
Em que medida é que a terapia conjugal pode ser útil? Apenas nos
casos em que a relação continua a ser importante para ambos e há a vontade de trabalhar em termos terapêuticos em
nome da reaproximação física e emocional. Primeiro, é preciso que os membros do
casal conversem franca e despudoradamente sobre as queixas de cada um, as desilusões,
as divergências. É preciso que estejam dispostos a escutar-se mutuamente sem
interrupções constantes. E é preciso que se mostrem solidários com as queixas
do cônjuge. O diálogo deve ir até à intimidade sexual, focando aquilo que cada
um gostaria de mudar/ experimentar, aquilo de que cada um gosta, aquilo que
nunca foi verbalizado, mas não pode resumir-se a esta fatia do bolo. É crucial
estender a reflexão às outras necessidades afectivas, àquilo de que cada um
sente falta (o romantismo, as saídas a dois, as actividades desportivas que
ficaram pelo caminho, a comemoração de datas especiais, a diversão)… Manter uma
relação dá trabalho mas se o esforço for
mútuo a satisfação é garantida.