Uma das causas mais frequentes
para os pedidos de ajuda clínica é o vaginismo,
que é uma perturbação com origem emocional que leva a que a mulher não tolere a
penetração vaginal. As dores são reais
e, embora resultem da contracção involuntária dos músculos da vagina, têm
origem em problemas emocionais, já que o próprio diagnóstico depende da
realização prévia de exames ginecológicos para despiste de qualquer problema
físico. Como já tive oportunidade de referir aqui, o vaginismo atinge muitos
casais, que sofrem em silêncio, apesar de se tratar de uma condição tratável
num período relativamente curto.
Outra das queixas frequentes está
relacionada com a diminuição progressiva
do desejo sexual - na maior parte das vezes o pedido de ajuda surge quando
o casal já atingiu a inexistência de qualquer intimidade sexual há algum tempo.
Embora sejam muito mais frequentes os pedidos de ajuda que apontam para o desejo sexual hipoactivo feminino, há
alguns casos em que é o marido que assume que não sente vontade de ter relações
sexuais com a mulher, ainda que continue a considerá-la fisicamente atraente.
Como tenho escrito em tantos
outros posts, a satisfação sexual tem
uma fortíssima influência da conexão
emocional, pelo que, quando há dificuldades sérias no relacionamento, que
quase sempre se traduzem em mágoas mas que nem sempre implicam discussões
abertas sobre o problema, estas podem generalizar-se à sexualidade. Quando às
mágoas, inseguranças e ressentimentos se juntam dificuldades de comunicação, é
possível que o problema se arraste ao
longo de décadas.
Ao meu consultório já chegaram
pedidos de ajuda de casais que, estando juntos há vários anos, nunca se sentiram satisfeitos do ponto
de vista sexual. Por que se mantiveram juntos? Na maior parte das vezes porque
escolheram olhar para as outras fatias do "bolo", centrando-se na
cumplicidade e no companheirismo e permitindo que o lado romântico da relação
se desvanecesse. Noutros casos, não foi propriamente o companheirismo que os
manteve juntos, mas a vontade de manter a família unida em nome dos filhos.
Claro que, nestas situações, a saída de casa do filho mais novo pode trazer à
tona dificuldades antigas que não podem continuar a ser ignoradas.
E há ainda os casos de pessoas
que, estando unidas num compromisso sério nunca foram capazes de conversar
abertamente sobre as necessidades afectivas de cada uma e que permitiram que a
passagem do tempo alimentasse a distância entre duas pessoas que, de repente,
se sentem como se fossem dois estranhos.
Para além das dificuldades de
base fisiológica, e a que muitas pessoas não dão resposta porque se sentem
envergonhadas de expor um problema íntimo ao seu médico, existem muitas
situações com origem emocional que podem e devem ser resolvidas em sede de
terapia. Porque ninguém merece sofrer
sozinho. Porque ninguém deve acomodar-se à insatisfação sexual, mesmo que
nunca tenha sentido prazer.