Como já tive oportunidade de referir noutros textos, a depressão é
uma doença cuja origem nem sempre é identificável. Nalguns casos podemos falar
de depressão reactiva, na medida em que a perturbação emocional surge como
resposta a um ou mais acontecimentos emocionalmente muito significativos - mas
esta é só uma das formas que a doença pode tomar. Em muitos casos a causa da
depressão é endógena (não sendo possível identificar qualquer fonte de stress),
noutros a origem é multifactorial. E há ainda as pessoas com propensão para a
depressão crónica.
Sendo absolutamente certo que os acontecimentos difíceis podem
condicionar a nossa estabilidade emocional, é natural que os seríssimos
constrangimentos financeiros por que estão a passar tantas famílias leve muitas
pessoas a estados depressivos. Mas a falta de dinheiro e as dificuldades
associadas ao cumprimento das obrigações financeiras nem sempre levam a que a
pessoa se deprima. Felizmente, algumas pessoas são mais resilientes e acabam por conseguir centrar a sua atenção na busca
de recursos. São pessoas que se entristecem, que se deixam abater pontualmente
mas que mais cedo ou mais tarde são capazes de dar a volta. Como não há
milagres, "dar a volta" pode implicar uma mudança tão radical quanto
emigrar ou passar a desempenhar funções muito diferentes daquelas para as quais
a pessoa estudou, por exemplo.
Paralelamente, há pessoas que exibem sinais de depressão - tristeza constante, pessimismo
generalizado, abatimento, desespero - e para quem é "mais fácil"
atribuir o mal-estar geral às circunstâncias externas como aquelas que o país
atravessa. Estas pessoas apresentam queixas que traduzem preocupações razoáveis
e por isso podem mascarar o seu estado depressivo. Uma análise atenta
permite-nos no entanto reconhecer que nalguns casos as dificuldades actuais ou
a incerteza em relação ao futuro são apenas a face visível de uma perturbação
emocional que é anterior a qualquer crise financeira.
Se uma pessoa estiver
deprimida e atribuir o seu mal-estar à crise, é pouco provável que reconheça
que precisa de ajuda clínica. Em vez disso, centrar-se-á no queixume, na desesperança e o
ciclo vicioso agudizar-se-á.
Há um ditado que diz que "mais vale acender uma vela do que
queixarmo-nos da escuridão" e que é aplicável a todas as pessoas que há
muito tempo deixaram de ver a luz ao fundo do túnel. Se o desespero tomou conta
de si, equacione a possibilidade de ter de cuidar da sua saúde emocional antes
de qualquer outra coisa. O simples acompanhamento médico através do médico de
família pode constituir um passo muito significativo para quebrar o ciclo de
negatividade.