Quando escolhemos alguém para partilhar a vida connosco ambicionamos reconhecer naquela pessoa a vontade de construir um projeto sólido, que dê ainda maior sentido à vida e que permita que haja um sentimento de pertença. Como se sabe, o número de divórcios é cada vez maior, apesar dos esforços que a maior parte dos casais fazem para evitar que os filhos sejam expostos à separação dos pais.
Vivemos cada vez mais e, também por isso, faz cada vez menos sentido a ideia de nos mantermos ao lado de alguém que não promova o "nós" ou que, apesar dos esforços, não está capaz de fazer com que nos sintamos efetivamente acompanhados.
Na maior parte destes casos as queixas até foram expostas ao longo do tempo - às vezes de forma assertiva, noutras de forma menos clara - mas, como os membros do casal não foram capazes de dar resposta a estas dificuldades, o distanciamento instalou-se e os conflitos deram lugar à desistência. Como a acomodação ao mal-estar não é sinónimo de adaptação e muito menos de satisfação, normalmente é só uma questão de tempo até que a "bomba" rebente.
De um modo geral, são as mulheres que mais se queixam e também são elas que mais frequentemente "desistem" de continuar a tentar.
Mas a verdade é que os homens também estão cada vez mais capazes de expressar as suas queixas, de chamar a atenção para as suas necessidades afetivas.
Quando um dos membros do casal desiste de se queixar e assume que se sente só, a crise é finalmente assumida de forma clara e alguma coisa tem mesmo de ser feita para evitar a ruptura.
Mas do que falamos quando falamos de queixas e necessidades por satisfazer? Não falamos com certeza de caprichos, exigências arrogantes ou tentativas de mudar a personalidade do cônjuge, moldando-o à nossa medida. A verdade é que nem sempre estamos capazes de discernir sobre as necessidades legítimas e as exigências descabidas.
Alguns casamentos terminam porque um dos membros do casal não foi capaz de resistir à frustração de ver algumas necessidades por preencher, isto é, porque uma das partes reivindicou do outro mudanças impossíveis, acabando por sentir-se só.
Outras relações acabam porque um dos membros do casal não foi capaz de se descentrar das suas próprias convicções e passou o tempo a rotular as necessidades do outro de caprichos sem importância.
Aparentemente manter uma relação duradoura pode parecer muito complicado. Afinal, estamos a falar da necessidade de adaptação e da ocorrência de cedências entre duas pessoas que são quase sempre diferentes e que se assumem muitas vezes como pessoas com "personalidade forte" :).
Estas pessoas não são santinhas nem estão sempre em sintonia. Mas reconhecem os sinais de alarme e fazem o que podem para garantir que o outro se sinta quase sempre amparado.