Há diversos factores que podem influenciar a forma como a
separação é gerida: a deterioração da relação conjugal, os motivos subjacentes
ao divórcio, a existência de filhos e a possível resistência de um dos membros
do casal à separação. Independentemente destas variáveis, o divórcio envolve
quase sempre medo e raiva – pelo menos,
para um dos membros do casal. É normal que o impacto desta decisão provoque
emoções muito intensas e que estas se misturem com alguns pensamentos
irracionais. Em função disso, muitas pessoas mostram-se surpreendidas com
comportamentos menos dignos vindos do ainda cônjuge. Assumiram que o divórcio
poderia decorrer sem golpes baixos, esperando que o cônjuge mostrasse o
carácter e a dignidade de sempre. Mas isto nem sempre acontece. Até as pessoas que nos habituámos a rotular
de sensíveis e bondosas podem desiludir e adoptar comportamentos mesquinhos
desde que se sintam dominadas pela perda profunda e pela raiva que daí decorre.
Nenhum pai ou mãe deveria colocar a sua desilusão e as suas neuras
à frente do interesse das crianças e, também por isso, muitas pessoas são
capazes de colocar as mãos no fogo pelo cônjuge antes de formularem o pedido de
divórcio. E depois são apanhadas
desprevenidas. Não há nada de errado em querer que o processo de divórcio
decorra de forma justa, sem guerras nem tumultos. Pelo contrário, seria
desejável que assim fosse sempre. Mas as pessoas que passam por uma separação
(às vezes ao fim de décadas de casamento) são “só” humanas, pelo que podem
ceder aos seus impulsos mais primitivos, podem cometer erros sérios dominadas
pela raiva, pelo ciúme, pela angústia, pela impotência, pelo medo e pela
frustração. E destes erros podem surgir conflitos muito sérios. Porque pode
faltar honestidade, porque alguns factos podem ser ocultados, porque os bens
podem não ser justamente divididos, porque os filhos podem ser manipulados,
porque os advogados podem deitar achas à fogueira.
A mediação familiar
pode ser uma ajuda fundamental para os casais que não conseguem desfazer-se dos
braços-de-ferro, em particular para aqueles que têm filhos e juram a pés juntos
que querem o melhor para as suas crianças. Mas é também porque esta é a altura
em que as crianças mais precisam de olhar para os pais e reconhecerem neles adultos estáveis, carinhosos e capazes
de os amparar que faz todo o sentido que ambos possam socorrer-se de todos os
recursos para resgatar a sua própria estabilidade. Esta segurança pode advir da Psicoterapia e é ainda mais pertinente
para aquelas pessoas que nunca conseguiram fazer-se ouvir ao longo do
casamento, isto é, aquelas que não conseguiram ser assertivas. Mas a segurança
também depende do apoio da família alargada e dos amigos. Nenhum pai ou mãe pode estar “lá” para os seus filhos nesta altura se
não se sentir suficientemente amparado. E a verdade é que muitos pais e
mães negligenciam as necessidades afectivas das suas crianças ao longo do
processo de divórcio. Porque estão mais ocupados em trocar acusações,
defender-se dos ataques de que são alvo, lutar contra os próprios medos, etc.
Sendo um processo doloroso, o divórcio envolve quase sempre algum
tempo e esse tempo deve ser utilizado para que cada uma das partes possa
estruturar as suas emoções. Muitas vezes há um que já completou o divórcio
emocional e que pretende acelerar a ruptura enquanto o outro, que ainda ama (ou
“sente que ama”), deseja eternizar a relação, ainda que isso passe por
eternizar o braço-de-ferro. Em qualquer uma das situações é possível recorrer à
ajuda profissional, aprender a gerir a
montanha russa de sentimentos e, finalmente, seguir em frente. As lutas, a
agressividade, a interferência na vida do ex-cônjuge e as acusações continuadas
são sinais de alarme a que ninguém deve ficar indiferente, em particular quando
há filhos. Como qualquer terapeuta familiar, estou habituada a receber em
consulta adultos que foram vítimas do divórcio destrutivo dos pais e que ainda
carregam feridas dessa altura.