Uma análise rigorosa acerca das pessoas que realmente fazem parte
da nossa rede social, da nossa rede de
afectos, pode ser crucial num processo terapêutico com pacientes deprimidos
e/ou dominados por pensamentos que distorcem negativamente a realidade. De
resto, esse é um dos exercícios que proponho regularmente nas consultas de
terapia individual e que funciona como ponto de partida para a desconstrução de
algumas crenças irracionais enraizadas ao longo do tempo e para o surgimento de
pensamentos mais optimistas e realistas.
Refiro-me à possibilidade de o paciente aceder, a partir do
momento em que elabora o esquema da sua rede social, àquilo que estas pessoas
pensam/sentem a seu respeito. De um modo geral, a cooperação de quem está do
outro lado é positiva, o que potencia o efeito terapêutico do exercício. O
objectivo não é pedir a estas pessoas para animarem o familiar ou o amigo
através de uma lista de elogios e bajulações mas sim permitir que a análise sincera e equilibrada de cada uma
destas pessoas ajude o terapeuta a ajudar o seu paciente. E isso implica
clareza e honestidade na identificação dos pontos positivos e negativos da
pessoa em causa.
Aceder a perspectivas diferentes a respeito daquilo que somos, da
forma como actuamos, é enriquecedor e, quase sempre, surpreendente. Como nos
revelamos de forma diferente consoante os contextos em que circulamos, acabamos por revelar fragmentos da nossa
personalidade a cada uma dessas pessoas.
Além disso, cada familiar, colega,
vizinho ou amigo possui a sua própria sensibilidade e esta toldará de alguma
forma a sua análise. O resultado é um conjunto de perspectivas que ajuda a
pessoa em terapia a questionar rótulos
antigos acerca de si mesma e a perspectivar mudanças que antes não
equacionara.
Todos sabemos que aquilo que os outros pensam a nosso respeito
condiciona a nossa autoconfiança e, por consequência, o nosso comportamento.
Mas quando damos asas à imaginação e confiamos esta análise ao nosso cérebro,
corremos o risco de os nossos pensamentos mais negativos distorcerem a
realidade, limitando a nossa segurança. Conhecermo-nos de forma profunda também
passa pelas aprendizagens que fazemos através dos laços que construímos. Se
aqueles com quem convivemos, a quem nos revelamos, partilharem connosco uma
parte daquilo que vêem em nós, ajudar-nos-ão a identificar as reais dificuldades e os reais recursos para enfrentar os
problemas.