Para muitas pessoas, é cada vez mais difícil, senão mesmo
impossível,
encontrar pessoas boas, genuínas, com quem valha a pena desabafar
e,
a partir daí, construir algum vínculo afectivo.
As crenças irracionais associadas às experiências negativas de
cada um e a uma tendência natural do nosso cérebro para se centrar na
negatividade facilitam a implementação de ciclos
viciosos. A pessoa olha à sua volta e sente-se rodeada de pessoas
superficiais, hipócritas, incapazes de gestos genuinamente altruístas. Em
função disso, dificilmente mostra o melhor de si, remetendo-se muitas vezes ao
silêncio, preferindo a reserva em vez da exposição. Sem querer, acaba por
mostrar também o pior de si e por não aceder às características positivas dos
outros.
Quando conhecemos alguém superficialmente é muito difícil explorar
o melhor da pessoa em causa. Acabamos por deter-nos no que de mais negativo
saltar à vista - a exuberância excessiva
(que noutro contexto poderia ser vista como dinamismo e alegria), a forma de
vestir (que poderia ser sinal de criatividade mas que é muitas vezes olhada
como uma forma de chamar a atenção), o tom de voz elevado (interioriza-se que a
pessoa "tem a mania" em vez de olhar para ela como extrovertida e
sociável)...
Claro que quando o nosso interlocutor se apercebe da forma
reservada (preconceituosa) como o avaliamos tratará de nos retribuir o
"tratamento" evitando perder tempo na exploração de características
positivas (olhar-nos-á como snobs, arrogantes e não como tímidos ou inseguros).
Como é fácil de perceber, apesar do filtro associado a um gabinete
de Psicologia, não são só as pessoas que recorrem à ajuda clínica que caem nas
malhas destes ciclos viciosos.
Na verdade, vivemos numa era em que dificilmente damos
uma segunda
oportunidade às pessoas com quem nos cruzamos,
detendo-nos nos tais pontos
negativos
e alimentando a ideia de que há poucas pessoas
que valham o nosso
investimento,
que mereçam a nossa confiança.
E em função disso sentimo-nos mais sós, mais inseguros. Quando,
pelo contrário, exploramos as características positivas de quem está à nossa
volta sentimo-nos mais confiantes e tornamo-nos mais amáveis, simpáticos e
generosos. Como é que isto é possível?
- Abrande o ritmo.
Invista alguns minutos extra naquelas conversas de corredor e mostre-se curioso
em relação às pessoas que o rodeiam. Explorar não implica colocar umas lentes
cor-de-rosa. Implica apenas retirar as lentes do pessimismo e tentar encontrar
o lado mais positivo nos outros.
- Seja optimista.
Habitue-se a procurar boas intenções no comportamento dos outros. Se olhar com
atenção, perceberá que há poucas pessoas genuinamente más e que, de forma
resumida, cada uma busca antes de mais ser feliz. As secas que apanha quando se
cruza com a vizinha mais velha do prédio são um sinal de que aquela senhora
quererá conectar-se, sentir-se menos só (e não atazanar-lhe a cabeça). As
conversas superficiais do seu novo colega não são mais do que tentativas desesperadas
de quebrar o gelo :).
- Procure o melhor nos
outros. Seja realista: estatisticamente é quase impossível que esteja
rodeado de víboras e psicopatas. As pessoas são muito mais do que os erros que
cometem à sua frente. Toda a gente tem traços de personalidade positivos - são
pessoas generosas, simpáticas, tolerantes, sensíveis, honestas ou pacientes.
Explore.
- Veja-se ao espelho.
Reconhecer características positivas nos outros é um sinal de que você possui
essas características. Ou de que, pelo menos, é sensível ao ponto de as
valorizar. Ser capaz de reconhecer as virtudes de quem está à sua volta mostra
que você também tem boas intenções, aptidões específicas e competências
sociais.