Tal como tenho tentado expor
noutros textos sobre a depressão, ao contrário do que tantas vezes se julga não
são só as pessoas que evidenciam de forma clara uma tristeza profunda que estão
deprimidas. Esta é uma doença comum mas
subdiagnosticada – tanto que há muitas pessoas que padecem de transtornos
depressivos que se estendem no tempo sem que haja o reconhecimento de que estão
doentes. O mal-estar está lá e às vezes até é notória a angústia em que a
pessoa vive mergulhada mas, porque é difícil assumir que se está deprimido,
porque ainda existe algum estigma associado ao adoecimento psicológico, não há
um pedido de ajuda clínica. A pessoa vai-se queixando ao mesmo tempo que
procura continuar a sua vida.
Em contexto organizacional é fácil confundir-se um transtorno
depressivo com preguiça ou falta de vontade de trabalhar.
Afinal, o que é que dizemos de um
trabalhador que está sistematicamente cansado/ desmotivado e/ou que falta com
frequência? Estar deprimido nem sempre implica o choro fácil ou a tristeza
evidente mas implica quase sempre a falta de energia e de motivação para
trabalhar, dificuldades de concentração, sensação de que nada vale a pena,
desinteresse generalizado e alterações de humor. E todas estas consequências
são desastrosas em termos profissionais. A pessoa sente uma imensa dificuldade
em corresponder às expectativas e, ainda que a frustração seja clara, corre o
risco de passar a mensagem errada. E se há doentes que se arrastam diariamente
para o emprego esforçando-se por marcar presença (mesmo que o desempenho
profissional seja muito pobre), há outros que faltam inúmeras vezes porque nem
conseguem levantar-se da cama. De resto, a
hipersónia e a “moleza” matinal são outros sintomas desta perturbação.
Como nenhum empregador está
interessado em manter nos seus quadros funcionários que não cumpram objectivos,
estes são doentes que arriscam a perda do cargo, sobretudo numa altura em que
há uma disparidade tão grande entre oferta e procura de emprego.
Nesse sentido, e porque a
manutenção de uma actividade profissional é um elemento importante na
recuperação destes doentes, mantendo-os mais estruturados e motivados, é
fundamental que o acompanhamento psicoterapêutico inclua a promoção de algumas
estratégias que permitam minimizar os sintomas da depressão e maximizar o
desempenho profissional. Isso pode incluir o desenvolvimento de competências
como a assertividade, a gestão da agenda (aprendendo a diferenciar afazeres
urgentes / não urgentes / importantes / não importantes) ou a flexibilidade.
Nem todos os empregos são compatíveis com a reestruturação do horário em função
de uma doença como a depressão mas é importante definir com rigor os objectivos
de cada profissão e tentar cumpri-los, ainda que isso implique trabalhar
“fora-de-horas”.
Nalguns casos o diagnóstico de
depressão pode levar a mudanças na carreira.
Não sendo fácil, é muitas vezes preferível abandonar um cargo de maior
responsabilidade (e stress), bem como do respectivo ordenado e viver mais
tranquilamente com um trabalho menos diferenciado, porventura até menos
estimulante, mas que seja compatível com as vicissitudes de uma doença tão
incapacitante.