À medida que o Facebook foi ganhando popularidade entre os
portugueses, cresceu a necessidade de mostrar ao mundo o número de amigos que
cada utilizador conseguia aglomerar na referida rede social. Durante algum
tempo, era visível a necessidade de mostrar através desta plataforma que somos
pessoas sociáveis, populares e estas competências mediam-se pelo número de
amigos. Depois as coisas mudaram e é cada vez mais frequente ouvirmos falar da
necessidade de DESAMIGAR pessoas da
rede. Hoje é mais do que consensual que a
popularidade de cada um não é proporcional ao número de amigos, do mesmo
modo que são frequentes as reflexões acerca da adequabilidade da palavra
"amigo" para rotular as pessoas que temos agregadas ao nosso perfil.
Como no Facebook todas as interrogações se disseminam a uma velocidade
estonteante, também é usual confrontarmo-nos com mensagens nos murais dos
amigos que nos confrontam com a dualidade amizade real/ amizade virtual.
Pois, é dura realidade...
No Facebook, todos temos um monte de amigos.
Mas se precisarmos não há muita
gente com quem se possa
contar... Então, vamos
começar a apostar que nem 5 amigos vão publicar
este texto no seu
mural...! Clica em "gosto" para eu saber que
publicaste no teu mural...
ou não!!! Eu vou ver... se realmente eu
precisar de ti posso
contar contigo...
Independentemente dos esforços que façamos para nos conectarmos às
pessoas que compõem a nossa rede social virtual, mais cedo ou mais tarde todas confrontamo-nos
com as limitações desta plataforma. A verdade nua e crua é que, apesar de a
maior parte de nós ser capaz de reconhecer as mais-valias do Facebook, estamos cada vez mais isolados do ponto de
vista social e afectivo. E a prova disso é a aflição que tantas pessoas
sentem quando percebem que, perante uma dificuldade séria, não raras vezes não
têm ninguém a quem possam telefonar para agendar um encontro, desabafar e
receber colo. Em vez disso, confrontam-se com a solidão, com a
indisponibilidade dos amigos, que estão ocupados com as suas próprias vidas e
que, sendo capazes de escrever coisas como "Força, estou contigo.
Beijinhos", não estão capazes de prover o conforto real. E nessa altura o
ciclo vicioso é alimentado através de desabafos publicados no Facebook em que
tantas vezes a pessoa refere que se sente desiludida com algumas amizades. A
resposta é quase sempre imediata - do outro lado do ecrã há alguém que se
identifica com o desabafo, que clica em Gosto e que é capaz de escrever coisas
como "Estou fisicamente longe de ti mas se pudesse dar-te-ia um abraço.
Força".
Mais do que queixarmo-nos do estado das coisas, do rumo que a
nossa sociedade está a tomar ou dos malefícios que resultaram da chegada do
Facebook às nossas vidas, importa que
reflictamos sobre aquilo que (não) estamos a fazer com as nossas competências
sociais. Como costumo dizer, salvo raras excepções, na amizade, como em
qualquer laço afectivo, colhemos na medida daquilo que semeamos. Parar para
pensar no investimento que temos feito nas nossas relações afectivas é a única
via responsável para avaliarmos aquilo que estamos a receber. Fará sentido
cobrar a presença dos amigos nos momentos difíceis quando, ao olharmos para
trás, percebemos que já só lhes damos os parabéns através do Facebook?
O que é
que fez no último ano pelos seus amigos reais?
Quantas vezes se esforçou por
mostrar que gosta mesmo deles e que eles são uma parte significativa da sua
vida?