Quando duas pessoas decidem dar início a um projecto familiar,
seja através do casamento, do nascimento de um filho ou do facto de passarem a
viver juntas, fazem-no porque acreditam que aquela pessoa possa ser "a
tal", com quem vão querer estar para sempre, com quem vão poder contar em
todas as circunstâncias. Independentemente dos números que dão conta de que um em cada dois casamentos termina em
divórcio, a maior parte das pessoas faz escolhas que permitam dar voz aos
seus sonhos e ninguém está verdadeiramente preparado para o fim de uma relação.
Quem já passou por isso sabe quão duro é um divórcio mas sabe também que é possível ultrapassar a dor e que é possível
voltar a sonhar. Mais:
Aqueles que viveram desgostos amorosos "à séria"
reconhecerão que,
a par do sofrimento, essas foram etapas que permitiram o
amadurecimento e o desenvolvimento pessoal.
Claro que quem está neste momento a passar por uma perda como esta
sentir-se-á legitimante frustrado, incompreendido e perdido. Porque só a morte
é mais dolorosa do que o fim de uma relação. Porque o sofrimento toma conta de
nós e tolda o pensamento transformando-nos temporariamente em pessoas
pessimistas, descrentes no amor e na reconstrução da vida afectiva. Até aqui,
tudo é normal e, até certo ponto, saudável. É saudável que alguém que acabou
recentemente um namoro ou um casamento se sinta extremamente triste, fale
imensas vezes sobre isso e reviva histórias passadas ao longo daquele
relacionamento. É normal que uma parte deste luto implique a necessidade de isolamento.
O que não é saudável é que alguém nestas circunstâncias comece a culpar-se
pelo rumo da relação,
assumindo toda a responsabilidade, inclusive sobre os erros do
ex-cônjuge.
Quando uma pessoa olha para trás e identifica no seu comportamento
erros que justifiquem o facto de o outro a ter traído, ter deixado de amar ou
pura e simplesmente ter decidido terminar, corre o seríssimo risco de alimentar
ciclos viciosos que são a base de transtornos depressivos. Infelizmente, este
não é um fenómeno raro. E é
particularmente frequente entre pessoas que foram vítimas de violência
emocional e/ou cuja auto-estima esteja particularmente fragilizada.
Se der por si a cair neste padrão comportamental, pare e peça
ajuda. É possível que todos estes raciocínios lhe pareçam lógicos, razoáveis
mas eles podem minar a recuperação da sua estabilidade emocional.