Todos os dias somos bombardeados com anúncios que nos dão conta de
produtos mais ou menos milagrosos para a perda de peso. Este tipo de
publicidade assenta no princípio do "caminho
mais fácil", reconhecendo implicitamente que é difícil manter a
disciplina, o rigor e a força de vontade associados ao caminho convencional -
dieta rigorosa aliada a exercício físico regular. Pior do que isso, estes
anúncios são apenas uma pequena amostra de uma perspectiva que está cada vez
mais enraizada e que assenta na ideia de que a força de vontade não chega ou não é assim tão importante na
concretização dos nossos objectivos. Infelizmente, confronto-me cada vez
mais com discursos que traduzem resignação e pessimismo e que são
generalizáveis à educação dos filhos.
Refiro-me a:
Adultos que se resignam ao
isolamento social e que assumem que é "praticamente impossível" fazer
novos amigos a partir de determinada idade;
Pais e mães com excesso de peso
que atribuem à Biologia e à Genética toda a responsabilidade da situação;
Homens e mulheres que deixam de
lutar pelos seus objectivos porque "sabem" que não vale a pena.
Mas refiro-me sobretudo aos jovens que são expostos a estes
modelos de educação e que interiorizam que não vale a pena dedicarem-se a
disciplinas difíceis como a Matemática porque, independentemente do número de
horas de estudo, o resultado será o mesmo. "Não
tenho jeito para isto" é uma frase cada vez mais proferida e que
traduz antes de mais a crença irracional de que a força de vontade é uma
competência inata. E não é?
Apesar de cada um de nós ser diferente e de algumas pessoas serem
aparentemente mais determinadas do que outras, independentemente do contexto em
que vivam, a força de vontade pode ser desenvolvida e depende em larga medida
da capacidade para nos desfazermos dos pensamentos mais irracionais.
É lógico que não é fácil manter os níveis de motivação, contornar
as adversidades, resistir às tentações ou contrariar a genética, Mas é
possível. Como? Treinando a perseverança, definindo (e vencendo) pequenas metas
e mudando gradualmente a forma como olhamos para nós mesmos.
Tal como já tive oportunidade de referir aqui, a PROCRASTINAÇÃO é um dos grandes
entraves à realização dos nossos sonhos. Em função dos medos mais ou menos
irracionais, acabamos muitas vezes por adiar tarefas importantes, perdendo
tempo com outras que nos distraem e impedem de seguir um rumo bem definido. O estudante
vagueia pela Internet em vez de se manter concentrado na preparação do exame
(interiormente não acredita que consiga ultrapassar esta prova). O escritor
adia sucessivamente a conclusão do seu livro queixando-se de falta de ideias e
ignorando que até mesmo o trabalho criativo depende mais do esforço do que do
talento. A senhora com excesso de peso foge do ginásio e desvia-se do plano
alimentar porque se convence de que é geneticamente incapaz de perder peso. O
operário de caixa gasta todos os meses o seu pequeno ordenado porque está
convencido de que nunca vai conseguir poupar uma quantia significativa.
A verdade é que podemos e devemos centrar-nos nos nossos sonhos e
transformá-los em objectivos. Nem todos serão concretizáveis mas a parte que
depende da nossa força de vontade é de facto considerável.
Quer uma prova?
Lembre-se da última vez que conseguiu ultrapassar um obstáculo ou
da última ocasião em que se sentiu feliz por ter atingido determinado
objectivo. Procure recordar a intensidade do seu bem-estar, a energia que
experimentou a seguir. Foi bom, não foi? É provável que tenha sentido uma força
incomum. O que quero dizer é que, quando definimos pequeninos objectivos específicos
e os concretizamos, sentimo-nos bem connosco e acreditamos que somos capazes de
mais.
É um ciclo virtuoso:
Quanto mais fazemos, mais nos sentimos capazes de fazer, quanto
mais nos superamos, mais motivados nos sentimos para testar novos limites,
quanto mais alcançamos, mais seguros nos sentimos de que tudo é possível.