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14.12.11

PESSOAS QUE NÃO CONSEGUEM ARRANJAR NAMORADO(A)

Todos nós conhecemos pessoas que descrevemos como “impecáveis”, leia-se, “bonitas, inteligentes, trabalhadoras, interessantes…” e que, por algum motivo, se mantêm solteiras. Não me refiro àquelas que o fazem por opção, mas antes àquele amigo ou àquela amiga que está há vários anos em busca da “alma gémea”. São pessoas aparentemente desejosas de encontrar um companheiro com quem possam construir uma relação sólida mas a quem parece faltar uma pontinha de sorte. Porque as pessoas com quem se relacionaram eram autênticos trastes. Ou porque os relacionamentos amorosos tendem a terminar de forma precoce. Ou ainda porque aquela pessoa parece ter uma pontaria para relações impossíveis.

De um modo geral, aquilo que verifico em sede de terapia é que aquilo a que tantas vezes se chama falta de sorte tem sobretudo a ver com as competências e vulnerabilidades da própria pessoa. Claro que as queixas residem quase sempre no sexo oposto: as mulheres reclamam porque os homens com quem se relacionam são egoístas, só estão interessados na parte física e descuram a intimidade emocional; os homens queixam-se de mulheres fúteis, superficiais, mais interessadas na parte material do que em construir uma relação séria.

Independentemente do percurso individual de cada um e dos pormenores que caracterizam cada processo terapêutico, é bastante óbvio que estes ciclos viciosos são antes de mais fruto de algumas crenças irracionais profundamente enraizadas. Por exemplo, quando um pai ou uma mãe rotula sistematicamente o seu filho de “burro”, alimenta uma forma distorcida de autoconceito. Aquela experiência pode ser determinante para que a criança, mais tarde adulta, se sinta insegura acerca das suas capacidades, mesmo quando confrontada com exemplos contrários.

Porquê? Porque a forma como olhamos para nós, para os outros e para a realidade é em larga medida toldada pelas experiências por que passamos.

Essas experiências podem levar-nos a interiorizar muitas crenças racionais mas também são responsáveis pelo desenvolvimento de crenças irracionais difíceis de desconstruir, mesmo com terapia. São esquemas mentais inconscientes, que condicionam de forma automática o nosso pensamento e o nosso comportamento, levando-nos a arriscar ou a desistir de sonhos e projectos. Alguns destes esquemas resultam da forma como observamos a relação dos nossos pais (enquanto somos crianças). Uma criança exposta a um ambiente familiar instável pode assumir, na idade adulta, um padrão de evitação de relações de compromisso “só” porque interiorizou que os relacionamentos amorosos são perigosos. Este não é mais do que um mecanismo de defesa que se transformou num padrão de comportamento disfuncional, inadequado mas de que a pessoa não tem consciência. É por isso que a pessoa tende a repetir comportamentos e a coleccionar relacionamentos que fracassam (e que a fazem sentir fracassada).

Existem vários mecanismos de defesa por detrás da dificuldade em desenvolver um relacionamento sério. Relações afectivas (com os pais ou, mais tarde, com o sexo oposto) marcadas pelo abandono, privação emocional, violência (física ou psicológica), isolamento, dependência, subjugação, pessimismo, inibição emocional, humilhação ou hipercriticismo podem criar insegurança profunda, perda de auto-confiança e assunção de comportamentos demasiado permissivos/ controladores/ instáveis.

Dependendo das experiências que “coleccionamos” – quer na infância, quer na idade adulta -, os esquemas/ as crenças irracionais podem levar a que seja tão difícil para algumas pessoas encontrar um parceiro. Estas pessoas ambicionam uma relação íntima e calorosa mas, em função da forma distorcida como percepcionam o mundo, não conseguem encontra-la.
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