De cada vez que um jornalista me contacta no sentido de recolher informações para reportagens/ dossiers sobre Amor/ Relacionamentos, há questões que se repetem. A verdade é que o assunto não perde atualidade e o interesse do público cresce na medida em que cada pessoa vai enfrentando diariamente desafios associados à vontade de viver um amor intenso e duradouro.
PORQUÊ QUE, COM A PASSAGEM DOS ANOS,
OS RELACIONAMENTOS CAEM NA ROTINA OU ESFRIAM?
Cair na rotina tem um lado bom –
todos nós precisamos de segurança e esta também resulta do facto de termos
construído, ao longo do tempo, algumas rotinas ou rituais familiares. Mas há
evidentemente uma conotação negativa na expressão “cair na rotina”. Sempre que
nos acomodamos e damos o outro como garantido, corremos riscos. À medida que o
tempo passa, cada um dos membros do casal amadurece e com esse crescimento
pessoal surgem mudanças, até em relação aos respetivos interesses. Acompanhar o
crescimento de quem está ao nosso lado é um desafio interessante mas
trabalhoso. Como noutras áreas da vida, quanto mais prestarmos atenção às
necessidades da pessoa que amamos, dando o nosso melhor, mais frutíferos são os
nossos esforços. Pelo contrário, ignorar essas necessidades implica correr
riscos (desnecessários). E se é verdade que um casal pode muito bem cair na
rotina durante alguns anos – normalmente enquanto estão ocupados com a educação
dos filhos -, a verdade é que pode ser só uma questão de tempo até que a bomba
rebente.
A CRISE DOS 7 ANOS É VERDADE OU UM MITO?
Vivemos sob o primado do Amor, o
que significa que são cada vez menos as pessoas que se sujeitam a estar numa
relação em que não se sintam preenchidas. Um casal pode acomodar-se a uma má
relação durante algum tempo mas, nos dias de hoje, essa acomodação tem um prazo.
As relações amorosas, como as famílias, atravessam diversas etapas e é
expectável que, de vez em quando, os membros do casal façam uma espécie de
balanço. Na prática, isso acontece a cada 6, 7, ou 8 anos. Nos relacionamentos
felizes, as pessoas nem dão conta desse processo – sentem-se satisfeitas e
pronto! Mas quando pelo menos um dos membros do casal começa a fazer o balanço
da sua relação e se depara com motivos de insatisfação e (principalmente) com
necessidades que ficaram por preencher ao longo do tempo, é provável que comece
a questionar “O que é que eu estou a fazer
nesta relação?”, “Será que ele(a)
alguma vez vai mudar?” ou “Quanto
tempo aguentarei viver assim?”. Está instalada a crise – nalguns casos, ao
fim de 7 anos, noutros um pouco antes ou até dois ou três anos depois.
COMO EVITAR AS DISCUSSÕES E OS PROBLEMAS SÉRIOS NA RELAÇÃO?
Em geral, as discussões fazem
parte da vida a dois – e isso não é particularmente negativo. Não sendo
expectável que um casal passe muito tempo sob tensão, a verdade é que o
conflito pode ser importante para que o relacionamento evolua. Mais: os casais
que não discutem correm muito mais riscos do que os que discutem, na medida em
que a ausência de conflito impede que a intimidade cresça. Há um sentimento de
pertença, de união, que resulta da capacidade para enfrentar as divergências e
que os casais que evitam o conflito nunca chegam a conhecer.
Claro que até para discutir e
resolver problemas é preciso ser-se emocionalmente inteligente, sob pena de as
discussões se transformarem em plataformas para uma crise conjugal. Antes de
mais, é fundamental que os membros do casal aprendam a reconhecer a REAL dimensão
dos problemas e que assumam que NEM TODOS OS PROBLEMAS TÊM UMA SOLUÇÃO. Há
divergências sérias que merecem ser alvo da atenção dos membros do casal e para
as quais é crucial encontrar uma solução. De um modo geral, os problemas mais
sérios envolvem pelo menos um de 3 assuntos: DINHEIRO, SEXO ou FAMÍLIA DE
ORIGEM. Ignorar o problema implica colocar o parceiro numa posição muito
frágil. Sempre que a pessoa que amamos resolve minimizar um problema que é
central na relação, aumenta a insegurança e o desamparo. Mas há muitas pessoas
que empolam pequenas insatisfações/ defeitos do cônjuge, exercendo uma
autêntica caça aos erros do outro e transformando o dia-a-dia conjugal num
verdadeiro inferno. Relativizar é a palavra-chave. Cada um de nós tem de
reconhecer que É IMPOSSÍVEL MUDAR A PESSOA AMADA, pelo que não adianta fazer um
braço-de-ferro por questões que não merecem tanta energia.
Por outro lado, mesmo no caso de
existirem problemas sérios, importa assumir que, muitas vezes (na maioria das
vezes, aliás) os problemas são geridos, não resolvidos. É por isso que nos
habituámos a ver os nossos pais ou os nossos avós a divergir uma vida inteira
sobre os mesmos assuntos. Ainda que discutam, eles estão apenas a gerir os
problemas – e isso não é necessariamente mau!
Continua…