Imagine que um familiar ou um amigo lhe comunica que publicou um vídeo no Youtube, acessível a todos os internautas, com a mensagem
"Acha que sou feio? Ou acha que sou bonito?
Dê a sua opinião
através dos comentários...".
No mínimo, preocupar-se-á com o risco de aquela pessoa receber
comentários anónimos mais ou menos insultuosos que possam abalar (ainda mais) a
sua autoestima, certo? Afinal, basta aceder a meia dúzia de páginas que
permitam a colocação de comentários para perceber que a maldade e o insulto são o pão-nosso-de-cada-dia de quem vê nestas
plataformas a oportunidade para descarregar neuras e frustrações.
Por esta altura, o leitor perguntar-se-á "Mas por que razão é
que alguém se exporia a estes comentários?". Agora imagine que encontrava
vários vídeos com mensagens deste tipo mas...
PROTAGONIZADOS POR CRIANÇAS!
Consegue perceber os riscos associados? Imagina a vulnerabilidade
associada? Então deixe de imaginar porque estes vídeos existem, estão online e,
portanto, acessíveis ao olhar de todas as línguas viperinas do planeta.
Basta uma rápida pesquisa no Google sobre o tema "Am IUgly?" para perceber o fenómeno. Há cada vez mais crianças a expor a sua
insegurança no Youtube, em busca de retorno positivo que lhes aumente a autoestima.
Escusado será dizer que o retorno que obtêm é potencialmente devastador.
Aquilo que sobressai da análise psicológica destes vídeos é o
papel parental que, em muitos casos, se pressupõe enfraquecido.
Afinal, se os pais são (ou devem ser) os principais cuidadores das
suas crianças, como pode haver espaço para estes comportamentos?
É legítimo questionar até que ponto estarão os pais destas
crianças a cumprir com as suas responsabilidades. Aos pais não compete impedir
que os filhos cometam todo o tipo de erros, nem tão pouco criar barreiras que
impeçam os filhos de serem expostos à crítica. Mas compete-lhes serem a
segurança afetiva das crianças, ajudando-as a lidar com as suas dúvidas e
inseguranças, ajudando-as a lidar com aquilo que as diferencia do grupo de
pares e, claro, a aceitarem-se tal como são. Além disso, os pais devem ser os
primeiros a evitar que os filhos sejam expostos a acontecimentos potencialmente
traumáticos.
A verdade é que estamos a falar da exposição à crítica gratuita e
de crianças que ainda não possuem estrutura emocional para lidar com tanta
agressividade.
Depois de aqui ter centrado a minha atenção sobre o comportamentodos adolescentes no Facebook, deixo hoje mais um alerta: até que ponto
estaremos nós, adultos, a fazer o que nos compete no sentido de impedir que os
avanços tecnológicos, que as crianças dominam em 3 tempos, não constituam
ameaças à sua estabilidade emocional?
Reconhecendo que o caminho não pode passar
por impedir o acesso à
Internet e aos recursos que ela oferece,
está relativamente claro que há muito
para fazer nesta matéria.